sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz ano bobo

Mais uma vez, começar o ano com Alice Ruiz. Adoro este poeminha, que passa pela minha cabeça todo primeiro de janeiro

Dia que termina
Nenhuma pressa
Ano que começa

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Postagem azul



Na minha vasta ignorância literária, ainda estou criando minhas referências. Uma delas, já solidificada, é com um poeta local Carlos Pena Filho. Por sinal, nem é a primeira vez que eu falo dele por aqui, está no circuito dos poetas e em um episódio dos versos de quarta.
Era de palavras delicadas, gostosas, com sacadas muito bacanas, como o poema que ele fez para Olinda, representado mais lá embaixo.
Este ano é o cinquentenário da morte prematura deste poeta e para lembrar sua passagem o Centro Cultural Santander fez uma exposição sobre ele.

Pude conferir e está muito boa. Não lembro de uma mostra bem cuidada assim para um poeta local sem muita força nacional. A exposição é dividida em 3 partes. No térreo há uma overdose de poemas dele e dois setores caracterizados. Um representando o bar Savoy (bar mítico que reunia os intelectuais no século passado), passando para um ambiente completamente azul (reflexo do desmantelo azul, um dos sonetos mais famosos dele), inclusive tendo um audio do próprio Pena Filho recitando o poema. No primeiro andar, um curta sobre o autor e no segundo algumas fotografias, vídeos e outras exposições artísticas que se vinculavam a poemas dele. No estilo do meu álbum do meu quintanando .
Sendo bem feito, de um poeta que eu realmente gosto, foram momentos valiosos que eu passei por lá. Ainda devo voltar para rever tudo de novo, mais azulado :D

Alguns poemas embaixo sobre coisas que citei aí em cima

(1) Trecho: Chopp (Copiei daqui)
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

(2) Trecho: Olinda (tirei daqui)
Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.

(3) Desmantelo azul (tirei daqui)
Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gestos insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas

Para extinguir de nós o azul ausente
E aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
Azul sobre os vestidos e as gravatas

E afogados em nós nem nos lembramos
Que no excesso que havia em nosso espaço
Pudesse haver de azul também cansaço

E perdidos no azul nos contemplamos
E vimos que entre nascia um sul
Vertiginosamente azul: azul.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Diálogo real

Há pessoas que chegam ao seu lado e te tratam como se fosse um amigo íntimo. Não sei até que ponto era verdade isso abaixo (ou se tinha o mínimo de verdade), mas foi assim que aconteceu: o diálogo esquizofrênico abaixo foram intercalados por momentos silenciosos.

Diálogo um: Abrindo o coração para um pobre sem crédito

Via uma exposição de fotografia enquanto uma senhora chegou:
- Você está gostando da exposição?
- Sim, eu gosto muito de fotografia. Estão muito boas estas.
- São realmente bonitas
- Se eu soubesse eu avisaria a uma amiga minha que gosta desta área, pena que não deu.
- Ah, chame ela então. A exposição só vai até hoje.
- Não dá tempo. Ela tem outras coisas hoje.
- Se quiser eu empresto o celular
- Mas não é questão de telefonar, senhora...

[Me olhei de parte a parte pra saber quão maltrapilho eu estava]

Diálogo 2: Perseguição
- Você não sabe como é difícil ser namorada de um deputado
- Oi?
- É. Difícil ser namorada de um deputado.
- Mas por que, exatamente?
- É muito difícil. Tem que ficar atento ao pessoal que quer atrapalhar a vida. São piores do que os paparazzi. Deixei de ir pra um show por conta disso.
- É né. Complicada esta vida pública
- Eles me perseguem. Olhe que eu nem tenho mais nada com o deputado, mas tão sempre querendo pescar alguma coisa
- Tem que ficar sempre atento né?

[Receei posar de amante dela na capa da contigo]

Diálogo 3: Conselho ao pobre
- Ele é apaixonado por mim, mas eu não quero nada com ele
- Oi?
- O deputado. Não vale a pena não. Vou te dar um conselho rapaz.
- Sim, pode dizer
- Nunca se case com uma vereadora. É só pra dar dor de cabeça
[Ela deputado, eu vereadora. Mas eu concordo, nunca namorei uma vereadora legal]

[Diálogo 4: Revelações e autoenganações]
- O deputado me pediu em casamento, mas eu não quis.
- Ué, não achava um boa?
- Ah, ele é bonito, rico, me ama. Mas quero não. Ele que volte pra aquelas duas amantes dele
- Oi?
- É, fulana e sicrana o nome das duas. Ele se quiser, que fique com elas. Felizmente eu nunca precisei de ninguém pra me sustentar.
- Então é melhor mesmo né, vai ser só dor de cabeça
- Mas eu sei que ele me ama.

[Ama, ama sim. Tenho certeza]

[Final: análise artísticas apuradas]
- Tem uma obra belíssima na outra sala, fica no lado direito entre dois quadros
- Eu chego lá já. Mas não é uma exposição de quadros esta próxima?
- É. Mas tem outra peça lá
- Tá bem, eu chego lá já.
- Eu vou aqui dar uma olhada.
Instantes depois eu vou em direção a esta sala, encontro a senhora na porta, como quem estivesse saindo.
- Eh.. eu acho que me confundi
- Foi? O que houve
- É que não era bem um quadro.

Entro na sala, olho pra direita, conforme a indicação da mulher. Na minha primeira impressão, havia algo no branco espaço entre dois quadros, com a plaquinha explicativa embaixo da obra. Não era um quadro e muito menos uma obra de arte. Era uma tremenda infiltração na parede, que vinha desde o teto e pipocara bem no lugar onde esteve um quadro, que obviamente fora retirado. Só que deixaram a plaquinha lá onde estava.

Pena que minha bateria da câmera nao cooperou. A infiltração eu iria fotografar.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Impressões legais

Conversa preliminar com uma desconhecida até então na exposição, conversando sobre viagens:
Começo:
- O gasômetro fica lá perto do centro de cultura Mário Quintana, em Porto alegre
- É bacana lá?
- Ah, eu gostei daquelas bandas.
- Você tem cara de que gosta de poesia.

Eba
:D

domingo, 5 de dezembro de 2010

Humanscapes

Sempre achei que o sentido que davam aquele clichê "definir-se é limitar-se" pobre e preguiçoso. Creio que ninguém consegue ser definido em poucas palavras, mas é possível traçar alguns princípios mais "profundos" que nos norteiam. Princípios que podem ser ampliados, reduzidos ou modificados no curso da vida. Além disso, o ilimitado não existe. Como diria Wittgenstein, os meus limites são os da minha linguagem. Reconhecer a própria limitação é um ponto importante para buscar, caso queira, coisa além dos seus próprios limites.

A questão então se torna no posicionamento dos limites, na sua amplitude. Apelando para eufemismos, vou classificar dois exemplos abaixo: os definidos e os "pouco definidos"

Vamos considerar uma perspectiva externa de alguém "definido". Uma pessoa comum, de reações frequentemente previsíveis, com qualidades e defeitos marcantes que se faz questão de manter por questão de "coerência". Uma pessoa "bonita e do bem". Uma representação nas artes plásticas poderia ser uma pintura de traços clássicos.


A beleza deste quadro é evidente e de esforço baixo para a compreensão. Você consegue ver ver com precisão os contornos do corpo. Traços bem definidos. Há alguns pequenos defeitos escondidos aí, defeitos que dependem do olhar de quem vê e da qualidade do pintor.

E os menos definidos? Alguém que você enxergue como um esboço, já que as ações não seguem necessariamente um padrão (ou ao menos parcialmente). Poderia ser algo assim


Isso é a Marilyn? Não sei, mas parece. Pode ser aquela cena clássica dela tentando segurar a saia sobre a saída de vento. A expressão facial é quase invisível. Uns traços pretos são o esboço das mãos e o que parece ser as pernas é uma composição preta e amarela. Não se sabe direito o que é cabeça, pescoço, vestido, braço e paisagem, são só impressões e comparações com uma referências que temos em mente.

Temos algumas referências para enxergar este último quadro, mas não certezas. O que fica dele não é são os contornos óbvios evidentes a nossa face, mas as impressões que ele passa dentro desta perspectiva. Esta é uma qualidade (?!) das pessoas pouco-definidas. Estes borrões de incerteza dão uma margem muito bacana para poder navegar, encontrar surpresas e outras perspectivas. Os idiotas da objetividade vão ver apenas um borrão, afinal, é melhor depreciar o que exige mais esforço.

Juro que eu prefiro esse "borrão" do quadro de baixo.

* Este quadro embaixo que motivou esta discussão está em exposição no centro cultural dos correios. Mas se não quiser ir lá ver, pode ver este e outros quadros aqui no site do pintor

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Versos de Quarta - Frei caneca

Estive na expoideias no domingo. Não sou muito chegado neste tipo de feira, mas resolvi dar uma espiada. Das poucas bancas que me prenderam, uma era a da Cepe, uma editora pernambucana. Havia uma coletânea de escritores pernambucanos. e vejo um poema muito legal
Segue um trecho:

Não posso contar meus males,
Nem a mim mesmo em segredo;
É tão cruel o meu fado,
Que até de mim tenho medo.

Dos homens sendo a paixão
Incêndio voraz no peito,
Sempre tem funesto efeito,
Se não rebenta o vulcão.
Eis porque, meu coração,
Pouco falta, que me estales;
Porque nos montes, nos vales,
Em deserto, ou povoado,
Não posso soltar um brado,
Não posso contar meus males.

(...)

O peito d’antes sereno
Centro de amor e ternura,
Agora é morada escura
De males mil, com que peno.
Vós p’ra quem um fado ameno
Aponta com áureo dedo,
Fugi de mim porque cedo
Mudar-se vereis a sorte;
Pois o meu mal é tão forte,
Que até de mim tenho medo.

Inteira e com a grafia antiga aqui

Aí, observo de quem era e me surpreeendo, era do Frei Caneca. Ele foi um do líderes da Confederação do Equador, movimento separatista pernambucano em 1824. Eu sabia que ele era intelectual, professor, e um dos redatores do jornal revolucionário . Mas na minha vasta ignorância, não sabia que ele tinha registrado boas poesias. Libertário, forte, a poesia parece refletir um pouco o espírito do revolucionário.

Um Frei que escreve sobre uma paixão forte (dizem que os primeiros 4 versos foi para uma mulher, de amor impossível) e que reconhece o próprio mal nos últimos versos?
Me tornei mais fã dele ainda!

sábado, 27 de novembro de 2010

Felicidade solitária - Bandeira' Rock

Não vou dizer que estar sozinho é a melhor das coisas. Mas concordo com o Quintana. É importante que nós preservemos a nossa solidão também. Sozinho você está mais aberto às impressões da rua, às pessoas, ao seu próprio universo. Já comentei sobre viajar sozinho uma vez aqui, daí nem pretendo me alongar tanto.
Mas por estes dias do novembro que passou, tive um domingo incrível a tarde. Um domingo solitário. Pude assistir exposições de fotografias, de gravuras, uma relacionadas a um poeta, um curtametragem, além de uma feira de novas ideias.
Sei que as impressões foram tão "fortes" comigo que, quando dei por conta, eu andava pela rua segurando os papéis que saí recolhendo sobre as exposições contra o peito, cabeça inclinada, olhar baixo, como que me "defendendo" de tanta coisa. Foi como uma resposta do corpo.
É uma sensação diferente, mas bacana. O fato é que as postagens que vem a seguir são relacionadas a este dia.

****
Passando pela rua em um fim de tarde eu vi um palco grande e uma tenda onde algumas pessoas estavam sentadas em cadeiras de plástico na outra ponta. Vou em direção a tenda e tenho uma surpresa. Um recital de poesias do Manuel Bandeira.
A ideia geral da coisa poderia ser bastante legal, se o infeliz que programou o recital tivesse percebido que o horário do danado bateria com a passagem de som. Poderia divagar aqui e aproveitar o clichê e dizer bonitinho que alguns trechos encaixaram perfeitamente aos versos. Entretanto, não foi o que aconteceu e acabou prejudicando mortalmente o recital.
Na saída, uma dúvida acabou perdurando: será que se fosse algo intencional, combinaria?


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fotossensível

Três registros da minha última viagem. Tentando fazer arte com minha câmera


Sol se escondendo entre as montanhas
Beira do abismo. Esta foto me dá um frio na barriga até agora
Balançando para o infinito

sábado, 20 de novembro de 2010

Tradução por figuras


ESte instrumento acima é uma escaleta, meu mais novo brinquedo. Ando enchendo o saco dos meus vizinhos e perdendo o fôlego soprando este bagulho

Já na imagem abaixo, eu peço a ajuda de vocês para compreender o significa isso que está no manual dela.
O bico preto é o bocal do instrumento.



Será quem canta os males espanta em japonês? :D

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Alma feliz

Minha mãe foi ao cemitério na véspera do dia de finados para evitar o fluxo excessivo do dia.
Ao passar um trecho do cemitério, reconheceu o túmulo do ex-síndico do prédio, sr Fulano de Tal.
Bom coração, ela parou pra fazer umas orações a alma do Sr Fulano. Separou uma vela para acender para ele

Ela segue adiante e 5 minutos depois olha um outro túmulo
"Fulano Sicrano de tal"
O túmulo real do ex-síndico lá do prédio. Ela se esquecera do segundo nome, as datas eram mais coerentes.

Minha mãe rezou pela alma errada

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Comemorações

Os militantes vermelhinhos se reuniram pra comemorar a vitória. Comemoram com o mesmo entusiasmo inicial nas duzentas vezes que se anunciou "Dilma ganhoooooooooou". É como um torcedor de futebol comemorasse o replay de um gol. A catarse fazia com que qualquer estímulo seja razão de gritar, de chorar, de soltar todos os palavrões que conhece, de amar, de morder e etc.

Estive num fim de noite que agregou militantes vermelhinhos. Especificamente onde eu fui, havia casais. Todos bastantes amorosos, mas eu queria destacar um, maior exemplo do raciocínio: Energia + álcool + provocações -> Energia sexual latente.

Se olhavam sem nenhum sinal de amor evidente. Se houvesse, estava encoberto pelo clima de tesão recíproco. Os beijos linguarudos, os amassos, diantes de todos do lugar, sem evidências de constrangimento.
De repente, a mão da moça escorrega até o short do moço, numa indução provocadora. Sai rapidamente, mas o suficiente para tirar o moço do sério. Ele então põe a mão na altura do joelho dela e desliza rapidamente em direção ao short.

Nesse momento eu queria invocar Nelson Rodrigues (de novo?) que disse algo do tipo "na minha juventude, eu não sabia dar nem bom dia a uma mulher". O cara saiu de uma provocada ousada, mas até certo ponto sutil (só alguns conseguiriam enxergar a bolinada) para uma mais evidente e agressiva. Ele foi pra meter a mão na genitália da menina mesmo. Ela fechou as pernas, pôs a mão pra "proteger" e se contraiu toda. Porém, a risada do seu rosto denotava que ela não estava achando isso a maior das ofensas.
O moço, tomado pela irracionalidade típica de um provocado e com a mão nada boba, insistiu. A menina resistiu, mas deslizou até a borda da cadeira.
Ele insistiu, ela resistiu
Ele insistiu, ela resistiu
Ele insistiu, ela caiu da cadeira, esparramada no chão
Mas não caiu como numa escorregada sutil. Caiu com uma jaca mole desaba sob um chão duro. Um ploft que ressoou por todo o lugar. A cadeira de madeira que ela sentara caiu junto, não menos escandalosa. O moço quase chegou a ir junto, mas se equilibrou com as pernas e evitou o tombo.
Vendo o ridículo da situação que ele provocara e querendo acalmar o lugar, ele soltou:
- Eu acho que esta cadeira é quebrada.
Enquanto a moça, olhando pra plateia que acompanhava o show, assumiu:
- Não, não foi a cadeira
E completou, com um olhar e sorriso faceiros e uma sinceridade etílica:
- O problema foi ooooutro.
Os carinhos esfriaram, mas nem tanto. Cerca de 10 minutos depois eles saíram juntos no carro.

sábado, 6 de novembro de 2010

A foto


No post 200 eu comentei que iria falar desta foto. Queria comentar da história dela
Dias destes eu estava no banheiro fazendo a barba, minha irmã acabara de tirar um café pra mim quando eu vi a tal exclamação no azulejo. Parei tudo pra tentar captar alguma imagem boa usando esta referência. O agravante era o pouco tempo pra pensar e as nuvens que passavam de instante em instante.
Sorte que deu tempo de pensar no boneco e pegar esta foto!
Mais do que a foto em si, achei bacana a circunstância. Dentro da casa que eu sempre vivi, consegui ver algo novo. Sorte também neste dia eu estar receptivo a estímulos como esse. Estas coisas são essencialmente do espírito, uma reação da minha parte mais poética ao cutucão que a natureza proporcionou.
Traduzindo em tempos da minha área:
Estímulo + natureza + espírito --> Processamento --> foto
Eu reconheço uns defeitos na foto, mas pelo contexto, foi uma das que eu não vou me esquecer

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

200



* Vou comentar sobre esta foto na próxima postagem

Depois da última postagem, eu tive a ideia de contar pra saber quantas faltavam para a de número 200 e tomei um susto
Já era a 199ª postagem, a seguinte já seria a 200.

Estes números redondos são bons como marcos, como referências para sentimentos. Eu juro como não achava que o blog chegasse na postagem 50. Hei de concordar com o Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.

O blog nasceu pelo desejo de registrar minhas pequenas sacadas e treinar meu poder de síntese, mas tentei de tudo um pouco. Os textos acabaram crescendo naturalmente. Mas deu uma ponta de saudade de uns formatos antigos que eu escrevia. Vou citar abaixo algumas postagens de referência. Minha lista ficou maior, mas tinha que reduzir isso :D

Haikai e outras tiradas : Este foi o primeiro haikai meu que eu postei aqui. Vez por outra eu posto algo meu como quem não quer nada. Poucas foram minhas tentativas em outros tipos de poesia, como o arte até ter ar, uma brincadeira de msn que virou um verso concretista.

Sartre e Dostoiévski: Referências ao que leio são muitas. Acho isso bacana, serve como um output do que a leitura produziu em mim. Ao reler, me lembra um pouco do sentimento do livro

Histórias do cotidiano e personagens do dia-a-dia: Preciso contar minhas histórias histórias. Adoro contar as coisas que vejo e que percebo de uma maneira atrativa e tentar evidenciar facetas interessantes de pessoas comuns.
Reflexões e divagações arrumam seu espaço na hora da inspiração. Concatenar estas coisas nem sempre é fácil, mas o blog tá aí pra tentar.

Versos de quarta, haikais dos sábados São algumas colunas que perderam um pouco a periodicidade, mas que refletem poetas que eu esteja lendo no período. É quase que um retrato.

Nos agradecimentos, não posso deixar de citar Leminski, Quintana, Rodrigues, Bukowski, Pena Filho e os demais que incitam meu espírito.
Por último. Queria agradecer aos meus poucos, porém ótimos leitores. A maioria eu conheço e me sinto orgulhoso de ser lido por figuras tão ilustres.

Valeu!

sábado, 30 de outubro de 2010

O cretino fundamental

Cá estou pra tentar uma façanha, tentar me aproximar de uma definição de quem é Cretino fundamental.
Este talvez seja um dos arquétipos mais famosos de Nelson Rodrigues, que criou outras figuras ilustres como desconhecido íntimo, padre de passeata, estagiária de calcanhar sujo e idiota da objetividade.

O cretino fundamental é um medíocre. É aquele cidadão que não faz muita questão de raciocinar, tornando-se massa de manobra. Flexibiliza seus conceitos éticos como quem dobra uma vara verde. Não é capaz de perceber as coisas de maneira sutil, precisando da evidência escancarada. Pior, é conduzido por canalhas ou outros cretinos quando está na mais absoluta convicção de que está com o controle de tudo.

Se posiciona como um papagaio que repete argumentos de outros sem fazer as considerações devidas, ou fazendo uso de ideais socialmente aceitos, levando a concordância geral sem grandes esforços.
Ele diz em uma mesa de bar que o problema do país é a educação e pronto. Quem há de discordar?

Não me isento, também tenho grandes momentos de cretinice fundamental. Mas sigo lutando contra minha própria ignorância.

Um cidadão médio possui diversos traços desta cretinice, que vemos com constância no dia-a-dia. Não encontra oposição, pois do seu lado há um grandíssimo cretino fundamental. Deste jeito, eles vão conquistando seu espaço em diversos campos. Na política mesmo, a mediocridade, a relatividade da ética, argumentação vazia tem espaço, não é?
A cretinada levou essa. Recolham seus arsenais


Algumas frases do Nelson sobre os cretinos.

- O cretino fundamental é aquele que tenta deturpar o óbvio ululante.
- O idiota da objetividade também é um cretino fundamental
- Ao cretino fundamental, nem água
- Ponha um cretino fundamental em cima da mesa e você manda ele falar, ele dá um berro e imediatamente, milhares de outros cretinos se organizam, se arregimentam e se aglutinam.
- O maior acontecimento do século XX É a rebelião dos ‘CRETINOS FUNDAMENTAIS’!
- Antes, ‘o cretino fundamental' raspava a parede da sua humildade e na consciência da sua inépcia. Mas, agora conseguiram finalmente pela superioridade numérica. Porque para um gênio, você tem um milhão de imbecis.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Influencias artísticas

Aqueles que gostam de literatura, música, ou algum outro tipo de arte já devem ter passado por esta situação:
Após uma exposição sua à arte, sai à rua e começa a ver a vida com as formas e contornos do que foi assimilado. Pode ser Nietzsche, observando os humanos, demasiado humanos, ou a solidão de cortar o estômago de Iberê Camargo no rosto de um mendigo que tenta dormir, ou os sons omissos do dia-a-dia após assistir uma performance de John Cage, qualquer coisa assim.

Os temas não-artisticos também possuem um sentimento semelhante. Por exemplo, estudar economia pode fazer você ver conceitos microeconômicos no vendedor de espetinhos. Porém, a arte tem uma ligação mais direta e mais profunda com o sentimento, ou o "eu interior" , o que diferencia no resultado final da influência.

Bem, uma de minhas leituras atual é "A vida como ela é", do Nelson Rodrigues. Aquela mesma que virou série do fantástico há uns 10, 15 anos. Os textos dele põe o dedo em várias feridas nas relações sociais, principalmente a conjugal. São textos com a cara do cotidiano, recheado erotismo e desfechos fortes e surpreendentes. Como diria o próprio Nelson Rodrigues: - Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.

Com este espírito y otra cositas más, dei uma saída hoje e tudo me soou um pouco diferente.

* Em uma mesa, havia um casal perfeito. Ele, um rapaz muito bonito, que chama atenção das garotas. Usava roupas de grife e tinha cara de bom moço. A moça seguia uma linha semelhante, vestida de maneira elegante e discreta, postura, parecia o estereótipo da "menina-de-família". Um casal que tem tudo pra "dar certo" e constituir família.
Porém, era um casal que transparecia o tédio. Ambos permaneciam longos instantes sem pronunciar uma palavra, sem um olhar mensageiro, sem um gesto carinhoso, sem nenhuma provocação, nada. Doía assistir aquilo. Por alguns instantes, eles pareciam realmente solitários com uma companhia "perfeita" do lado. O que se passava?

* Outra mesa trazia uma garota na faixa dos seus 18 anos, linda. Branca, alta e encorpada. Tinha os cabelos negros bem escuros e usava um vestido tomara-que-caia que a valorizava. Além disso, sua mesa era central, o que trazia ainda mais os holofotes pra si.
Um rapaz da mesma faixa de idade a acompanhava. Estava todo de preto com detalhes prateados na altura do cinto e um cabelo que passa aquele rótulo de Emo. Era alto e magro, mas não era feio nem bonito.
O que se viu no lugar foi a garota dando em cima do rapaz sutilmente enquanto ele desviava o rosto, inclinava o corpo pra trás e evitava a garota. Observei que os marmanjos ao redor invejaram a situação do emo na mesma proporção que se indignavam com a falta de ação. O burbrinho era geral. A senhorinha resolveu intensificar as ações e dar em cima dele descaradamente, puxando-o pra si, aproximando o rosto a centímetros.Ele mantinha a "defesa". Pelo gestual do rapaz, ele parecia que estava com algum receio, algum medo. Pois às vezes ele até tentava se aproximar, mas recuava e balançava a cabeça negativamente. Olhava perdido pra baixo.

Talvez eu enxergasse estas cenas mesmo sem Rodrigues. Contudo, ele me transportava nestes instantes. Eu conjecturava como eles se conheceram, a intensidade dos sentimentos, o desenrolar (com doses de erotismo ou a sua falta) e qual seria o desfecho disso tudo (um desfecho Rodrigueano, claro).

A literatura hoje me ajudou a tornar uma saída comum, numa sexta comum, para um lugar comum tivesse um status de única. De histórias que eu vou pensar como poderia ter sido se passasse antes pela cabeça do anjo pornográfico.

Ps: Citar Rodrigues aqui nem é novidade, ele é figura recorrente com suas frases :D

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Coisa de velho

Estava eu escutando meu jazzinho no carro quando um amigo meu interpelou.
- Tira esta música de velho! Põe teu cd de Guns n' Roses aí.

Isso me fez sentir o tempo passar. Eu lembro do Guns no auge, como referência para um monte de bandas que surgiam.

Só que isso já faz mais de 20 anos, excetuando o cd "fantasma" lançado em 2009, eram 17 anos sem nada de novo. Será que uma banda como esta já virou velharia?

Seguimos envelhecendo. E, assim como nossos pais, há uma tendência de "cristalização" das nossas referências mais antigas que atrapalham o acesso as novidades, dificultando a reciclagem. Lembro que brincava com meu tio por ele gostar de Frank Sinatra ainda nos anos 2000 enquanto ele não agregava coisas novas. Sorrateiramente, percebo este processo acontecendo comigo e, em maior ou menor escala, com alguns de meus agregados.

Além disso, há a dificuldade de encontrar as coisas novas e legais no meio de tanta informação difusa. O que nos é jogado na cara são bandas pouco atraentes pra quem tem raízes mais antigas, forçando o esforço em busca de coisas novas e descobrir onde, o que e por que escutar tal banda?

Há um tempo eu tomei uma decisão radical, apaguei TODAS as minhas mp3. [Tá, guardei em dvds, mas raramente as ouço por lá]. Queria zerar, recuperar o desejo de escutar coisas novas, bacanas e atuais, me "descongelar" e posso dizer que tenho encontrado surpresas agradáveis.

Dentre elas, o Hypnotic Brass Ensemble (a jazzband citada no começo), banda com 8 instrumentos de sopro e uma bateria que toca um jazz muito bacana. A banda é de 2004 e eu recomendo pra quem curte o estilo. Pode ouvir este link qui, que os homi tocam superempolgados.

Estou envelhecendo, mas sigo querendo ampliar minhas fronteiras musicais

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Politicaria III - O muro

Os principais métodos multicritério de apoio à decisão acrescentam no seu funcionamento um limiar de indiferença.

Como funciona isso? Em um certo patamar, o decisor é indiferente às alternativas que compara. Ele é capaz de julgar as duas, capaz de comparar, mas não é capaz de decidir. Grosso modo, seria uma "faixa de igualdade". Sem delongas teóricas, os modelos que não consideram a indiferença "forçam" o decisor a tomar uma decisão, que não necessariamente respeite a idiossincrasia do cidadão.

Em modelos de decisão em grupo, a não-tomada de decisão representa algo do tipo "pra mim tanto faz estes dois, vocês que tem razões suficientes que decidam". Esta não é uma postura que possa ser dita 100% neutra em termos de contagem, afinal a indiferença numa decisão em grupo beneficia a alternativa que já está na frente. Porém, em termos pessoais, o decisor se sente mais a vontade, pois não aponta que "a" é melhor do que "b" sem acreditar nisso.

Nas eleições políticas no Brasil, o voto da indiferença é o voto em branco. Não o branco de quem não quer saber de política e vota pra se livrar, nem o branco de quem vota como subterfúgio para ter um salvo-conduto de criticar as pessoas que votaram em quem ganhou e causou uma crise.

O voto da indiferença é de quem não se julga capaz de decidir entre as opções. Chega a colocar as alternativas numa balança, mas ela não pende pra lado nenhum. A partir do momento que a análise foi feita, não é demérito nenhum.

Nas eleições devemos fazer um esforço para optar. Encontrar algum critério, ainda que minúsculo, que decida entre um e outro. Mas se as opções se equiparam tanto a ponto de você não enxergar nenhum diferencial entre as partes, não é nenhum demérito votar em branco.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Versos de Quarta - John Suckling

A frequência pode não ser constante como fora no começo do ano, mas quarta é o dia que as poesias aparecem aqui no blog (exceto os haikais dos sábados, obviamente).

Hoje vamos de John Suckling. Um poeta líder dos Cavaliers Poets. Grupo de poetas que apoiavam a monarquia inglesa nos Idos do século XVII. Não ache que por isso, eles eram nobres chatos que exaltavam as causas pessoais. Cavaliers em inglês também tem um significado de fanfarrão e foi esta vertente que se sobressaiu no grupo.

Essa característica fica claro no verso que eu trago. Ao aconselhar ao Young Sinner no texto, vai incentivando até uma fronteira, talvez da dignidade. Depois disso, termina com um carinhoso "Que o diabo a carregue"



Why so pale and wan, fond lover?
Prithee, why so pale?
Will, when looking well can’t move her,
Looking ill prevail?
Prithee, why so pale?

Why so dull and mute, young sinner?
Prithee, why so mute?
Will, when speaking well can’t win her
Saying nothing do’t?
Prithee, why so mute?

Quit, quit for shame! This will not move;
This cannot take her.
If of herself she will not love,
Nothing can make her:
The devil take her.

*************
Minha porca tradução abaixo é só pra ajudar na compreensão do sentido, nem procurei alinhar as rimas e as aliterações da poesia original por pura incapacidade mesmo. Se você entendeu acima, nem precisa ler embaixo.

Por que tão pálido e triste, tolo apaixonado
Por Deus, Por que tão pálido?
Se, quando estás bem não mexes com ela
Aparentar doente prevalecerá?
Por Deus, Por que tão pálido?

Por que tão desanimado e mudo, jovem pecador
Por Deus, Por que tão lânguido?
Se, quando você fala bem, não a conquita
Não falar vai ajudar?
Por Deus, Por que tão desanimado?

Deixe, deixe, deixe por vergonha! Isso não mudará
Isso não a conquista
Se dela mesma, nunca amar a ti
Não podes faze-lo
O Diabo que a carregue

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Relações amorosos ideais

- Tinha aquelas coisas de casal, de tá no meio da briga, a mãe dizer uma frase e ele dizer "fofa, isso é bom". [se vira de lado e gesticula como quem digita numa máquina de escrever] Tá, tá, tá, tá, e desenvolvia um poema inteiro

Este depoimento é de Estrela Leminski, filha de Alice Ruiz com Paulo Leminski, poeta já citado um quintilhão de vezes aqui.

Eu não acredito em relacionamentos perfeitos. Porém, creio que haja "graus de aproximação" deste modelo ideal, que auxilia não só a manter a relação sustentável como trazer coisas boas para ambas as partes.

Claro, este caso é quase que uma fantasia, uma metáfora, de tão excêntrico que é. Mas, dá pra servir como uma referência de que é possível desenvolver de modo saudável e engrandecedor uma relação entre pessoas além dos preceitos românticos mais básicos e escravizantes. De um entendimento próprio até nos momentos de desentendimento, leveza de espírito, se divertir com a postura do outro. Sem deixar que o desgaste natural da convivência consuma muito rápido o sentimento que uniu as pessoas.

Minha opinião talvez não seja a mais neutra para este tipo de coisa. Afinal, estou solteiro há anos e isso pode soar como uma justificativa do meu status. Pode até ser, exigência, chatice, sei lá. Mas não vejo razão para largar os tantos de liberdade que conquistei se não for para obter uma troca convincente, se não for para querer escrever poesia no meio de uma briga.

A arte de viver
É simplesmente a arte de conviver
Simplesmente, disse eu?
mas como é difícil!


domingo, 26 de setembro de 2010

Limites da arte

Existe limite pra arte? Vira e mexe aparecem casos que põem esta pergunta em voga, seja por questões éticas, morais ou até questionando a falta de sentido do que está sendo exposto.

Observem a série abaixo, chamada "os inimigos" de Gil Vicente. Nela, ele ameaça figuras famosas e representativas, que por sua vez ficam sem posição de defesa. Seria uma "resposta" a estas figuras, que deixam o cidadão sem defesa para desmandar tomando decisões questionáveis.

Estes quadros, até segunda ordem, serão expostos na bienal de São Paulo. Até segunda ordem porque talvez o ministério público proíba, por incitação a violência.

Será que é pra tanto? É uma questão que envolve princípios básicos do ser humano e definições que na discussão básica podem ser relativizados, o que gera uma polêmica danada. Pude ver gente afirmando que era coisa de extremo mau gosto até pessoas que se viam no lugar do artista.

Bem, espiem
:D

FHC

Lula

Papa Bento XVI

Kofi Annan (Ex secretário-geral da ONU)


Jarbas Vasconcelos (Ex-Governador de Pernambuco)

Rainha Elizabeth II


Eduardo Campos (Governador de Pernambuco)


George W. Bush

Ariel Sharon (ex primeiro ministro Israelense, hoje vive em estado vegetativo)



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Quintanando

Bem, terminei a minha brincadeira com o Quintana que havia citado em postagens anteriores.
Junto alguns poemas do Quintana à fotos que tirei nas minhas andanças por Porto Alegre.

Pena que eu só tive a ideia depois de ter voltado pra minha capital. Ainda sim, foi uma busca divertida. Li pelo menos 4 livro de Quintana umas três vezes. Vi e revi Porto Alegre sob minha ótica e hoje sinto que tenho uma ligação um pouco mais forte com a capital gaúcha (além das pessoas que tenho por lá) graças aos quintanares.

Os links para quem quiser ver
no Flickr (vou passar alguns dos meus álbums lá pra essa plataforma também)

e uns três aqui pra dar uma ideia de como ficou:





Poeminho do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!




Fim do mundo
Um homem sozinho numa gare deserta
À espera de um trem que nunca vem.
Por fim, vai informar-se no guichê da estação.
Não encontra ninguém...





Vida

Não sei
O que querem de mim estas árvores
Essas velhas esquinas
Para ficarem tão minhas só de as olhar por um momento

Ah! Se exigirem documentos aí do Outro Lado
Extintas as outras memórias
Só poderei mostrar-lhes as folhas soltas de um álbum
[de imagens
Aqui uma pedra lisa, ali um cavalo parado
Ou
Uma
Nuvem perdida,
Perdida...

Meu Deus, que modo estranho de contar a vida.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Versos de quarta - Mario quintana

Confissão

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece…
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!


Os poetas tem a capacidade de transformar em palavras alguns sentimentos que achamos indizíveis. Me sinto parcialmente trasncrito aí.
Da minha última viagem que eu fiz foi a Portalégri, sua cidade de coração. Arranjei uns livros dele que não tinha e tentei captar um pouco a cidade com os olhos do velho poeta. O resultado eu espero registrar aqui no blog em breve.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Perigos inocentes

Às vezes, os jornalistas se empolgam nos adjetivos

Do Uol:

E eu, que sempre pratiquei este esporte radical na infância sem equipamento de segurança. Dei sorte

[se alguém quiser ver o link, tá aqui]



domingo, 12 de setembro de 2010

Uma tarde no mercado - Parte final

* A banda que tocou no mercado começou com os instrumentos todos desregulados. Depois da segunda música ajustaram alguma coisa. E começou aquela linha bem de mercado, Fagner, Fagner, Zé Ramalho, Paulo Diniz, Pink Floyd... Pink Floyd? Pois é. De repente eles mandaram um Another Brick in the wall, part 2. E, do nada, com guitarra, atabaque e chocalho. A banda mandou uma série de hits clássicos internacionais, com direito a Beatles, Stones, Dire Straits. Isso, sem deixar de lado os sucessos de boteco.

* O microfone do grupo virou quase um karaokê. Passou por lá a cozinheira do bar vizinho, o dono do bar (cantando feelings, uia), até gente que nem sabia que pra se cantar, o microfone precisava ficar diante da boca. Pior para o guitarrista, ter que acompanhar este povo. Com o crescimento do índice alcoólico global, o guitarrista tomou as rédeas. Só tocava o que ele queria.

* Estava chegando a hora do jogo de futebol e decidimos tentar ver na única TV do mercado, que chiava horrores. Além disso, um homem com o chapéu de chifre fazia com que a imagem fosse dividida em três regiões, intra e extrachifre.

* Alguém toca no meu ombro (no mercado, você não sabe o que espera quando se virar). Era um homem na mesa de trás, muito bêbado. Ofereceu cenzão pra apostarmos entre nossos times, me dando a vantagem do resultado de empate. Não aceitei. Ele baixou pra 20 e eu continuei sem aceitar. Para se ter uma ideia do estado dele. Após o começo, ele assistia ao jogo e, por vezes, se virava pra mim e perguntava.
- Como é que tá o jogo?
Ou seja, ele olhava e não via. Quis apostar 100 pilas num jogo que ele mal sabia o que tava se passando. O bêbado apostador é um risco iminente ao seu próprio bolso. Antes do final ele confidenciou que apostou duzentão com outra pessoa nas mesmas condições.
O jogo foi 1x1 e ele perdeu.

* Fim de jogo, nível etílico alto, minha mesa definitivamente se integrou com a mesa do vizinho. Dentre as teorias levantadas, havia a que o homem preferia cachorros e mulheres gatos. Após toda uma argumentação, houve um desfecho.
- É que estas coisas tão bem além da capacidade de compreensão dos homens, você tá me entendendo?
- Não! Ou eu deixo de ser homem!

Fatality.

Bem, esta foi a parte publicável da coisa!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Versos de quarta

Quando digo que vou ir a Porto Alegre

Percebo que estou equivocado

Não pela redundância do verbo

[do gramático chato

Mas pela heresia de usar um termo

Que não é da minha gente

Como um gaúcho, falando oxente

sábado, 4 de setembro de 2010

Uma tarde no mercado - Parte um

Passei à tarde num mercado público municipal, vim aqui relatar uns tópicos da experiência:

* O mercado fica numa região comercial, no centro antigo da cidade. Não é o mais tradicional, nem o mais bonito, mas creio que seja dos mais movimentados. Tem um caráter essencialmente popular, mas também atrai outras pessoas que se atraem pelo clima, além do pessoal que vai pra posar. (Pois é. Ir a mercados públicos populares também é cult!). Apesar de o tempo estar bastante nublado, o mercado estava cheio.

* Havia dois boxes que eram vizinhos e tinham características bem peculiares que se aproximam do estereótipo masculino e feminino. No Box dos homenzinhos, bebidas das mais diversas naturezas no balcão, garçons totalmente descaracterizados, que exigiam certa atenção para se perceber quem era e para piorar, os atendentes se revezavam, provavelmente estavam fazendo bicos por ali. A cerveja, porém, multo gelada durante o dia todo, coisa de quem se preocupa com isso. O Cardápio?

- Tem bode e sarapatel.

* O bar das mulherezinhas era bem organizado, havia mesas forradas com um número indicando o lugar. O cardápio de plástico tinha mais de 10 opções que eu pude ver a distância, a maioria delas poderia ser vista em cartazes pregados ao redor do Box. Dentro, as cozinheiras todas com toucas e um aspecto interno limpo. As atendentes eram mulheres em sua maioria e todas de fácil identificação.

* O lugar estava lotadíssimo. Para que coubessem as mesas todas, foi necessário ficar todo mundo junto e apertadinho. Isso fez com que a interação entre as mesas vizinhas seja relativamente forte e por vezes engraçada.

* Numa destas, uma moça que estava por trás de mim, ao receber novas pessoas a sua mesa e acomodar todo mundo, toca no meu ombro, eu me viro e ela:

- Dá pra você sair daí?

Surpreso, perguntei como quem não entende, pela ousadia, e ela repete.

- Dá pra você sair daí?
Eu ainda mexo minha cadeira um pouco pra frente. Eu não ia deixar de sair do lugar da mesa onde eu estava com meus amigos por um pedido ousado destes. Ainda puxei um pouco a cadeira pra facilitar. Ela então percebe o movimento e se apressa para falar:

- Não! Não é para você sair daí, eu quis saber se dava para você sair daí, caso queira ir ao banheiro.

Tudo esclarecido depois do complemento, mas eu virei a piada do dia.

* No Box dos homenzinhos onde eu estava iniciou uma movimentação de uma "banda". Está assim entre aspas porque tinha um cantor, um guitarrista e só. Eles trouxeram um atabaque que era revezado entre os garçons e o dono do bar (não que eles soubessem tocar, mas enfim). Um deles, por sinal, tocava com um garfo na mão na lateral, estilo de quem toca pagode.

Bem, Como o post ficou grande, vou falar da banda e de outras coisas na segunda parte.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Politicaria II - Debates

Alguém viu ontem o debate da Band? Parabéns pra quem conseguiu assistir inteiro.

Ainda que eu tivesse interesse em assistir inteiro, não conseguiria por conta do cenário da Band. Por um telão luminoso atrás dos candidatos deixou Serra verde e fez com que olhar pra Dilma, com o fundo amarelo, fosse uma agressão visual. Particularmente os erros de português me incomodam também e pelo menos três dos quatro cometeu um "estrupo"



[fundo do cenário de Dilma]

Sobre o debate em si, antes eu queria estabelecer um parâmetro. O que seria um debate ideal? Considero que seja um onde seja possível perceber as diferenças de opinião acerca dos participantes a fim de tirar minhas próprias conclusões. Um fala porque acredita em "x" e porque não em "y", o outro faz isso, mantendo sempre no campo das ideias. Alguma semelhança com o debate contemporâneo?

O Brasil obteve alguns bons resultados econômicos-sociais, isso fez com que pouco se discuta sobre estratégias macro pelos candidatos, eles concordarem com a forma geral de gerir. Nos pormenores eles empatam. Por último, os candidatos estão lá para "ganhar" o debate, esta distorção de objetivo faz com que a evasão às perguntas seja o mote. Respostas genéricas, fugas, tudo milimetricamente treinado. É apenas um jogo de retórica de gente que tem este livro abaixo na cabeceira



ué? eu também tenho, mas eu não minto muito não :D
Sempre quis escrever sobre este livro aqui no blog mas não encontrei a perspectiva, um dia eu acho que sai!

Faço uma analogia de uma tema apresentada por um cientista estrangeiro na faculdade que eu participei ontem. Ele vende soluções envolvendo este tema e na sua apresentação os pontos fortes e fracos se transformaram em pontos muito fortes e pontos nem tão fracos assim. O debate político permanece assim, vazio, jogo de retórica, sendo difícil até pegar elementos interpessoais, por estes também serem manipulados.

Enfim, escolher um candidato é difícil. As cobras estão todas na toca e ainda não puseram suas cabeças de fora.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Das fotos que não tirei

Como se sabe aqui no blog, eu gosto de fotografias. Há algumas que mexem comigo, mas lembro bem das fotos que não tirei e que gostaria de ter tirado.

Logo me vem a cabeça 5 cachorros dormindo na praça do marco zero, onde desmontavam o palco do show de Reveillon. A maior cara de "o ano está começando agora"

Outra é de uma briga de torcidas do Atlético do Paraná e do Paraná-clube. ônibus se cruzam. Vândalos aos montes pulam pelas janelas e se aproximam, apontando morteiros uns contra os outros. De repente, no meio da briga, aparecem dois guardas municipais desarmados para conter o tumulto! A foto seria a torcida do atlético a esquerda, a do paraná a direita e dois policiais no meio

Hoje eu vi uma destas
Trânsito na cidade complicado graças ao dia de chuva. No canto de uma via movimentada uma carroça sendo puxada por um cavalo. Em cima da carroça, o puxador, de lado, tranquilamente conduz o cavalo e fala ao celular, alheio aos transtornos que ele causava ao trânsito. Ele tava meio de lado, com uma capa de chuva velha e com uma expressão de que estava falando nada sério ao telefone.

Daria uma foto incrível. tentem visualizar também

Ando meio ausente daqui, mas vou aos poucos escrevendo e salvando pra voltar já com um tanto de coisa acumulada


sábado, 17 de julho de 2010

Haikai dos sábados

Na alma de um engenheiro farto
Ironia desliza contínua
Poesia dói como um parto

segunda-feira, 12 de julho de 2010

As bacantes

Estive comentando com uma amiga minha que a arte é capaz de mexer com o ser humano de uma maneira interessante, atuando diretamente nas sensações, valores, desejos reprimidos e outras dimensões recônditas. Após a exposição à entidades desta natureza, é comum passar tempo ruminando, enquanto aquilo se encaixa dentro de si.

Foi assim que eu me senti ao assistir As bacantes, uma das quatro peças encenadas pelo Teatro Oficina. A peça é uma representação de uma tragédia grega. Como normalmente faço nestas análises-depósito de lembrança para o futuro, vou registrar uns tópicos:

* Não lembro de ter tido tanta dificuldade pra descrever algo que queria registrar aqui no blog. Quem conhece a pegada do teatro Oficina sabe como a banda toca. Nudez aos montes, sexualidade latente, peças longas de condução não-linear e surpreendente, capaz de inserir uma música do Mamonas Assassinas numa tragédia grega. Peças normalmente longas, que faz você se autoquestionar "Seis horas? vou sair antes..." .

*Agora imagine algo deste quilate sendo apresentado de graça em um bairro popular da cidade. Gente que ia porque era de graça, era perto e porque tinham dito que haveria mulher pelada, ou comida de graça no caso da peça do dia seguinte.

*Eu fiquei em um lugar que era quase uma polarização. Abaixo de mim, alunos empolgados da oficina que iriam fazer figuração de improviso na peça. Vi gente empolgada, como uma garota que deixara os seios a mostra e permanecera só de calcinha e blusa, ainda que para ser figurante isso não fosse exigido. Já acima de mim, populares que criam que era engraçado gritar em determinados momentos. "Veaaado" "que pouca vergonha" "olha quanta rola murcha" "quando que começa a furança?". Todos nós, até você leitor, tem consciência de que isso aconteceria. Mas como seria o cenário no transcorrer da peça?

* Aos poucos, os mais exaltados foram desanimando, a piada estava ficando repetida. Uma peça comprida e de graça tem ao menos esta virtude. Ainda que acontecessem berros esporádicos, as coisas entraram nos eixos na medida do possível. Até um grupo de garotos que ficaram em uma das pontas do teatro, que corriam desesperadamente quando, por questão da peça, subia algum pelado por ali, foram se acalmando. Era uma movimentação que se assemelhava a momentos de briga em aglomerações.

* Havia bastantes cenas fortes e em determinados momentos a tenda montada parecia um estádio de futebol, com o povo se exaltando. Era uma energia muito forte e em determinadas cenas faziam o público vibrar como se fosse um gol. Li que este era um dos desejos de Zé Celso, "o cara" da companhia. Nestes momentos, ele deve ter ficado satisfeito. Também houve a participação de uma mulher da comunidade, com seus 60 e poucos anos, que tirou a roupa e se jogou de corpo e alma na peça, tentando imitar os movimentos alinhados dos atores em determinadas cenas, sem ser interrompida. Foi um show a parte e mais uma na idéia de "imersão" proposta pelo teatro oficina. Disseram que em Salvador, onde a peça havia sido exibida antes, um cachorro vez por outra roubava a cena.

* A peça foi muito bem produzida. Patrocinado pelo ministério da cultura, tinha banda, duas câmeras transmitindo ao vivo, uma tenda montada só pra apresentação. Pelo que eu li, estiveram trabalhando por volta de 60 profissionais. Particularmente eu gosto muito quando dá pra perceber que determinada técnica cênica de movimentação, impostação de voz, ou o que quer que seja, é utilizada como recurso para atingir quem está vendo. Peças bem produzidas como esta exibem uma gama de recursos que ajudam as pessoas a entrarem no clima.

Vou parando por aqui para não deixar o texto ainda mais cansativo. O semironia é uma luta constante contra minha prolixidade. Mas se alguém se interessou mais pelo andamento, vejam a opinião dos especialistas aqui, aqui e uma opinião neste blog aqui


obs: Eu queria deixar este tópico por último, porque é mais pra eu me lembrar e sendo citado assim, não dá a dimensão da razão pela qual foram feitas estas cenas. Sim, em alguns momentos a sexualidade é quase que "forçada", mas não dá pra emitir opinião com as cenas descritas a seguir: dentre as cenas mais "chocantes da peça, houve as mulheres com as "cobras" na cabeça, alunos da oficina convidados para lamber os seios das atrizes, um pênis gigante no canto que um dos atores subiu em cima, uma atriz aproximando a genitália do fogo, como se "esfregasse" nas chamas, a captura de 3 da plateia (incluindo o diretor do filme Amarelo Manga) para tirar a roupa no palco, entre tantas outras. Pena que eu tenho uma memória ruim pra lembrar estas coisas.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A Razão é suficiente?

Imagine que haja uma decisão complexa a se tomar e faz-se um opção racional sobre uma alternativa.
Tomou-se tomada a melhor decisão. Pelos critérios de racionalidade até então, não havia outra alternativa melhor.

Mas vejamos...
Será que havia tempo e informações necessárias pra tomar a decisão?
Será que o tomador de decisão tinha capacidade intelectual (eufemismo!?) e de percepção suficientes para avaliar e sentir as nuances?
E quanto aos viéses de pensamento, será que foi possível desligar deles?

Talvez, com alguma destas dimensões enriquecidas, fosse possível tomar uma decisão melhor dentro do nosso conjunto de valores ou otimizando os resultados. Por isso dá pra chegar a uma conclusão curiosa. Destoando um tanto da ótica iluminista e talvez do senso comum, a racionalidade em uma tomada de decisão é restritiva e sua utilização exige cuidado, já que é pior demover uma "boa ideia racionalmente adotada". As opções e critérios tomados são subgrupo de um espaço de opções que a racionalidade do indivíduo impõe.

A partir do momento que se confronta com novas ideias, perspectivas, informações, diminui o abismo que é a nossa restrição de racionalidade.

Estou lendo um livro pra faculdade que mapeia o processo decisório cognitivo sob um monte de perspectiva. Acho que volto a escrever sobre depois

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Politicaria I - Percepções iniciais

Apesar das eleições só acontecerem daqui a alguns meses e as discussões políticas estarem ofuscadas pela copa do mundo que já está em cima, já começo a receber de maneira ainda tímida argumentos pró e contra os candidatos dos principais partidos que disputam a eleição. Vou antecipar algumas percepções minhas

Não sou de direita, nem de esquerda e acho esta divisão (e a maioria das que surgem) boba. Creio que o partidarista médio acaba cego pela vontade de que o seu querido vença, usando despretensiosamente (ou não) diversos sofismas a fim de confirmar sua posição. Também não componho o grupo de analfabetos políticos de Brecth [http://www.youtube.com/watch?v=2RwJemF_9tY]. Numa escala de menor rigidez, eu concordo com o que o grande “Bertoldo Brecha” falou.

O formato de eleições proporcionais no Brasil é bastante questionável. Só funcionaria se os partidos tivessem uma identidade fundamentada, o que não é o caso. Aliás, que partido mais sem identidade do que o maior de todos, PMDB? Mas sendo do jeito que é, acho importante a pluralidade de informações comparado ao bipartidarismo norte-americano

Já precisei estudar técnicas de votação. Sendo pragmático, no primeiro turno, não existe o não votar. Votos brancos e nulos beneficiam quem estar na frente. Portanto, o voto branco deve ter um significado de indiferença na escolha. Por outro lado, votar no candidato significa apenas que você o julga o melhor (ou menos pior) sob determinada circunstância. Do ponto de vista técnico, vale a pena votar caso você veja um diferencial positivo por menor que seja.

Por hora é isso

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mães

Hora do almoço, espiava um joguinho na televisão. Minha mãe aparece e aproveito pra fazer uma perguntinha:
- Mãe, a senhora sabe me dizer quem tá jogando?
- Deixa eu ver. Diz minha mãe concentrada.
A imagem no momento era esta:



-Hmm ... É Espanha e... hmm.. Espanha e Portugal?
Minha mãe acertou o Portugal, mas de onde ela havia tirado a Espanha?
Só digo uma coisa, minha mãe teve uma baita imaginação. Quem souber ganha um doce.

* Atualizado em 23:49 do dia 10/06

sábado, 29 de maio de 2010

Haikai dos sábados

Se Gaia estiver certa, de fato
O homem é o carrapato
no planeta que teima em viver

terça-feira, 25 de maio de 2010

Inconclusivo

Resolvi dar uma volta nesta sexta à noite, algo soft. No cruzamento de duas avenidas relativamente perigosas o sinal está fechado. Reduzo a velocidade para não ficar muito tempo paralisado na esquina.
Observo então um movimento, alguém encostado numa placa de trânsito. É um menino. Moreno, baixo, com roupas já gastas e folgadas, ele estava todo comprimido, com os joelhos flexionados abraçados pelos seus braços e chorando desesperadamente. Analisei aquela cena por uns dois ou três segundos enquanto o sinal permanecia fechado.

Interrompo a descrição por aqui. Pensei em diversas formas de analisar minha experiência. Acho que o que foi escrito até então já é suficiente para fazer um leitor parar um pouco e pensar nas suas próprias reações diantes desta cena.

Não darei nenhuma pista nem qualquer tipo de indução do pensamento.