domingo, 5 de dezembro de 2010

Humanscapes

Sempre achei que o sentido que davam aquele clichê "definir-se é limitar-se" pobre e preguiçoso. Creio que ninguém consegue ser definido em poucas palavras, mas é possível traçar alguns princípios mais "profundos" que nos norteiam. Princípios que podem ser ampliados, reduzidos ou modificados no curso da vida. Além disso, o ilimitado não existe. Como diria Wittgenstein, os meus limites são os da minha linguagem. Reconhecer a própria limitação é um ponto importante para buscar, caso queira, coisa além dos seus próprios limites.

A questão então se torna no posicionamento dos limites, na sua amplitude. Apelando para eufemismos, vou classificar dois exemplos abaixo: os definidos e os "pouco definidos"

Vamos considerar uma perspectiva externa de alguém "definido". Uma pessoa comum, de reações frequentemente previsíveis, com qualidades e defeitos marcantes que se faz questão de manter por questão de "coerência". Uma pessoa "bonita e do bem". Uma representação nas artes plásticas poderia ser uma pintura de traços clássicos.


A beleza deste quadro é evidente e de esforço baixo para a compreensão. Você consegue ver ver com precisão os contornos do corpo. Traços bem definidos. Há alguns pequenos defeitos escondidos aí, defeitos que dependem do olhar de quem vê e da qualidade do pintor.

E os menos definidos? Alguém que você enxergue como um esboço, já que as ações não seguem necessariamente um padrão (ou ao menos parcialmente). Poderia ser algo assim


Isso é a Marilyn? Não sei, mas parece. Pode ser aquela cena clássica dela tentando segurar a saia sobre a saída de vento. A expressão facial é quase invisível. Uns traços pretos são o esboço das mãos e o que parece ser as pernas é uma composição preta e amarela. Não se sabe direito o que é cabeça, pescoço, vestido, braço e paisagem, são só impressões e comparações com uma referências que temos em mente.

Temos algumas referências para enxergar este último quadro, mas não certezas. O que fica dele não é são os contornos óbvios evidentes a nossa face, mas as impressões que ele passa dentro desta perspectiva. Esta é uma qualidade (?!) das pessoas pouco-definidas. Estes borrões de incerteza dão uma margem muito bacana para poder navegar, encontrar surpresas e outras perspectivas. Os idiotas da objetividade vão ver apenas um borrão, afinal, é melhor depreciar o que exige mais esforço.

Juro que eu prefiro esse "borrão" do quadro de baixo.

* Este quadro embaixo que motivou esta discussão está em exposição no centro cultural dos correios. Mas se não quiser ir lá ver, pode ver este e outros quadros aqui no site do pintor

Um comentário:

Marina disse...

Eu prefiro o estilo do quadro de cima. Não gosto muito de borrões.