sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Postagem azul



Na minha vasta ignorância literária, ainda estou criando minhas referências. Uma delas, já solidificada, é com um poeta local Carlos Pena Filho. Por sinal, nem é a primeira vez que eu falo dele por aqui, está no circuito dos poetas e em um episódio dos versos de quarta.
Era de palavras delicadas, gostosas, com sacadas muito bacanas, como o poema que ele fez para Olinda, representado mais lá embaixo.
Este ano é o cinquentenário da morte prematura deste poeta e para lembrar sua passagem o Centro Cultural Santander fez uma exposição sobre ele.

Pude conferir e está muito boa. Não lembro de uma mostra bem cuidada assim para um poeta local sem muita força nacional. A exposição é dividida em 3 partes. No térreo há uma overdose de poemas dele e dois setores caracterizados. Um representando o bar Savoy (bar mítico que reunia os intelectuais no século passado), passando para um ambiente completamente azul (reflexo do desmantelo azul, um dos sonetos mais famosos dele), inclusive tendo um audio do próprio Pena Filho recitando o poema. No primeiro andar, um curta sobre o autor e no segundo algumas fotografias, vídeos e outras exposições artísticas que se vinculavam a poemas dele. No estilo do meu álbum do meu quintanando .
Sendo bem feito, de um poeta que eu realmente gosto, foram momentos valiosos que eu passei por lá. Ainda devo voltar para rever tudo de novo, mais azulado :D

Alguns poemas embaixo sobre coisas que citei aí em cima

(1) Trecho: Chopp (Copiei daqui)
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

(2) Trecho: Olinda (tirei daqui)
Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.

(3) Desmantelo azul (tirei daqui)
Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gestos insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas

Para extinguir de nós o azul ausente
E aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
Azul sobre os vestidos e as gravatas

E afogados em nós nem nos lembramos
Que no excesso que havia em nosso espaço
Pudesse haver de azul também cansaço

E perdidos no azul nos contemplamos
E vimos que entre nascia um sul
Vertiginosamente azul: azul.

3 comentários:

Marina disse...

Não conheço Carlos Pena Filho, mas gostei dos trechos. Quem sabe eu volte a ler poemas...

Anônimo disse...

Estava em um chá de panela hoje e uma das prendas dos noivos era recitar o poema Chopp com brega ao fundo, tinha que ir no ritmo da música :P

Marina disse...

Eeeeee! Agora com foto.