quinta-feira, 21 de abril de 2011

Registros do carnaval II

Agora, deixo aqui 5 fotos mais descontraídas

Uma destas figuras da foto não é boneco gigante, adivinhe qual é

Nem as estátuas escapam em época de carnaval

Se pedisse pra mulher fazer o que fez de propósito, não sairia igual

Michael Jackson (??) e trigêmeos da Skol


Sabe aquela alegria do folião quando vê uma câmera e sabe que está ao vivo? Nada melhor do que uma mãozinha







sábado, 16 de abril de 2011

Registros do carnaval - 1

Já passou mais de um mês do carnaval, mas como eu não tive tempo de parar para fazer umas postagens relacionadas, vai agora mesmo.
Vou fazer dois registros fotográficos.
O primeiro tem um teor mais cultural, serve para dar uma dimensão do que é o carnaval pernambucano para as pessoas de fora. Consegui tirar umas fotos de algumas manifestações típicas que desfilam por aqui nos dias de carnaval.
Ah, contrariando o que foi dito nesta postagem daqui, não gastei um centavo pra ver isso, além da passagem de ida e volta :P

Troça carnavalesca

Bloco de frevo-canção

Bonecos gigantes

La Ursa improvisada

Maracatu de baque virado


Caboclo de lança do Maracatu de Baque solto

Caiaporas de pesqueira

Dançarinos de Frevo com a sombrinha típica



terça-feira, 5 de abril de 2011

Biografia

Nas minhas andaças por aí, olha que surpresa eu encontrei.
Minha Biografia em literatura de cordel :D

pense num presentinho que não custou nada mas que valeu muito :D

sábado, 2 de abril de 2011

Haikai dos sábados

Juras de amor na praia
Mar com ciúme
Corações apagados

quarta-feira, 30 de março de 2011

Versos de quarta - Solano Trindade

Solano Trindade é um poeta pernambucano que faz parte do circuito dos poetas. Negro, fez várias poesias sobre as injustiças sociais sobre as questões relacionadas. Também tem uma parcela de poesia com um interessante cunho social, entre outros.

Abaixo uma poesia muito bacana dele. Que tal uma grava colorida, Solano?

GRAVATA COLORIDA

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...

sábado, 26 de março de 2011

Haikai de sábado

Abraço.
Se o espaço é escasso
Não desfaço

segunda-feira, 21 de março de 2011

Liberdade e imaginação

Complementando a postagem anterior. Uma coisa bacana no mundo das artes é uma "ampliação" do espaço da liberdade. O artista é capaz de mudar algumas regras evidente pra gente e inovar pela sua imaginação.

Um dos caras que eu vejo com esta ótica é o surrealista Marc Chagall. Utilizando bem o seu movimento artístico, Chagall se soltou de algumas amarras e produziu quadros muito bonitos. Gente voando, cores diferentes, fantasia misturado com realidade são uma constante no trabalho do cidadão. Alguns quadros estão abaixo a mostra.


Lovers flying






The promenade









Eu e a aldeia

sexta-feira, 11 de março de 2011

O carnaval não é só isso

Todos vocês já devem ter visto o comentário da jornalista Rachel Sheherazade atacando o carnaval. A transcrição do texto está aqui

Já foi falado, já repercutiu bastante, mas eu não vi nenhuma reposta que colocasse determinados limites no comentário. Vejo uma louvação tremenda. Vou registrar aqui alguns contrapontos que os olhos parciais não consideram.

1. O carnaval pode não ter origem brasileira, mas o carnaval brasileiro é sim genuíno. Se a gente regride as coisas, o que foi inspirado no que, vamos voltar muito além. Além do mais, quem se importa da origem?

2. Sei que no Rio de Janeiro tem blocos de rua enormes. No Recife é cheio de atrações gratuitas. O galo da Madrugada, que arrasta 1,7 milhões de pessoas, deve ter no máximo uns 5% de pessoas de camarotes. Neste panorama, é uma festa popular sim. Foi uma generalização infeliz do carnaval.
E vamos parar com esse negócio de que é feio ganhar dinheiro.

3. Concordo que há músicas ruins, mas em Recife/Olinda temos frevos-canção lindos. Por sinal, o frevo tradicional se apresenta na Europa em festivais de Jazz. O samba tradicional do rio não pode ser considerado uma música pobre também. Mais uma generalização que incomoda

4. Hoje em dia, o que se faz em favor do povo é rotulado de política de pão-e-circo. Apontar de maneira hipócrita "onde estão os policiais" e "onde estão as ambulâncias" na diversão da massa que não pode se defender é fácil, até porque não mexe com os prazeres pessoais dela.
Os prazeres da vida são racionais e "inutensílicos", como diria Leminski. Se formos racionalizar tudo, não vamos por o pé fora de casa.

5. Esta parte da crítica quanto ao giro de dinheiro no carnaval é muito pobre, convenhamos. A própria João Pessoa tem um fluxo de turistas muito forte. Os informais faturam SIM no carnaval, tanto que lotam as ruas vendendo seus itens. Isso não resolve o problema social deles e etc, mas os ajudam.

6. Culpar o carnaval por acidentes de embriagados e por gravidez indesejada é colocar o carro na frente dos bois. Se alguém bebe e dirige em festa, faz isso sendo carnaval ou não. O mesmo quem se descuida dos métodos contraceptivos.

7. O carnaval foi bom nos tempos de outrora? É bom dar uma lida aqui antes de bater o pé nesta opinião. Outrora também tinha seus problemas, mas são mais fáceis de esquecer.

---

Até concordo que o comentário dela possa exibir algumas realidades e induzir reflexões importantes, mas discordo totalmente da forma ampla e generalista que foi feito. Olhe que eu nem sou chegado em carnaval. Sempre que posso eu viajo pra outros cantos, mas acho importante marcar opinião

sábado, 5 de março de 2011

Haikai dos sábados

Nem todo dia

Meio-dia chuvoso
A praia vazia
Fechou para almoço

quarta-feira, 2 de março de 2011

Poesia de quarta - Emily Dickinson

Eu costumo dizer que a manhã, pra mim, representa vida. É quando as praias estão lotadas, as crianças correm por aí, as familias vão às ruas e se expõem, normalmente felizes como propaganda de margarina.

Vou deixar um pequeno verso sobre a manhã, escrito pela Emily Dickinson, poetiza americana que se manteve reservada durante a vida, só ficando famosa depois que partiu.

"Morning"—means "Milking"—to the Farmer—
Dawn—to the Teneriffe—
Dice—to the Maid—
Morning means just Risk—to the Lover—
Just revelation—to the Beloved—

Tradução de Ivo Bender

Manhã - significa ordenha - para o fazendeiro
Alvorecer - Para o Tenerife
Picar verdura - Para a cunhada
Manhã significa tão-só risco - para o amante
E apenas revelação - para a bem amada

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Princípios de quem não tem princípios

Uma conversa com o mecânico, enquanto ele trabalhava.

Inicia com o mecânico apontando com o queixo para uma loira que passava do outro lado:
- Olha só.
- Hã?
- Aquela loira ali.
- Ah, sim sim. Tinha visto ela na outra sala.
- Gostosa né. Essa calça jeans
- Pois é, ela tá bem. Deve ouvir um monte na rua do povo soltando gracinha.
- Pois isso é uma coisa que eu não faço!

Me surpreendo como ele foi enfático, prossigo.

- Soltar gracinha pra mulher?
- Sim. Aí vem o marido atrás, puxa o braço e "dá-le". Ele vai ter razão. Aqui mesmo teve um caso destes. O marido meteu a mão na cara do rapaz e quando ele foi revidar, puxou a arma.
- Eita. Assim é fácil ser corajoso.
- Olhe rapaz, vou te dizer uma coisa. Se a mulher do meu irmão quiser me dar, eu como. Se mihna irmã quiser me dar. Eu como. Quando eu era mais jovem mesmo eu comi a mulher do pastor, ela tava querendo. Se elas querem dar, eu como. Mas não falo de ninguém na rua! Não falo não, de jeito nenhum.
[ahh tá, claro..]
- Mas isso não pode dar confusão não?
- Poder pode. Mas se elas quiserem dar, eu como. Outra coisa. Eu não falo nada, mas olho! Olho mesmo, se passar aqui na frente eu "fico com as butuca de oio assim ó".
- Mas isso não vai ofender com quem fala não?
- Ofender o que? Que nada. Se veste daquele jeito porque quer. Olho mesmo. E se vier reclamar eu não tenho medo não. Pode ser aqueles 'grandão' de desenho animado. Eu não tenho medo de nada neste mundo, só de uma coisa. Do castigo divino.


Então vamo resumir:
Comentários cretinos na rua para mulher é uma invasão mas olhar descaradamente é um direito garantido seu.
Pegar a cunhada e a própria irmã é lícito, ainda que proibido pela igreja, só que a única coisa que se tem a temer é o castigo divino.
Tá ferrado o homem




sábado, 19 de fevereiro de 2011

Janis

Vou registrar aqui três citações bacanas dela:

"Quando canto é como se eu estivesse tendo uma relação sexual com toda a plateia: o problema é que quando a música acaba, eu volto sozinha para o camarim"

"O blues do negro é sempre baseado na falta de: Estou triste porque não tenho mulher, não tenho dinheiro, nao tenho isso ou aquilo. E não é o que está faltando que faz você infeliz, mas o desejo específico por alguma coisa que não pode conseguir. Não é o não ter, é o querer. O que você gotaria que fosse é o que te torna infeliz; que traz o vácuo e o vazio. Por isso eu bebo"

"O que faço, só interessa a mim, mas acho que o público gosta de ver seus ídolos sofrendo. Especialmente cantores de blues. Eu digo que não vou dar este gostinho a ninguém. Estou aqui para me divertir e vou fazer o máximo para curtir a vida ao máximo"

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

História

Ah, a história!
Todos nós estudamos nos primórdios da educação como a história é bonita. Nas séries mais avançadas, aprendemos como tudo isso era mentira. Descobrimos que a história do mundo foi feita em cima de muito ódio, ambição, mercantilismo e mais um monte de interesses pouco nobres.
Ao lermos alguns textos que relatam coisas do passado, ficamos vulneráveis a parcialidade do autor. Às vezes, não temos elementos fundamentais para compreender o contexto de determinadas ações, como o sentido de cada ação, o cenário, os pontos de vista, as contradições, entre outros. Facinho me vem em mente uns 4 exemplos de histórias tendenciosas por falta de informação.
Anarquista que sou, me divirto quando a metodologia fria dos que se propõem a contar escondem alguma razões interessantes por baixo do pano, dando uma outra dimensão para a questão.

Estes dias eu li uma pseudobiografia de Janis Joplin. Ela marcou época no fim da decada de 60 com uma voz surpreendente (dita voz de cantora negra em uma branca) e uma postura atípica para os padrões da época. Janis bebia e se drogava bastante, se proclamava Hippie e se vestia como tal. Achei curiosa a descrição da própria sobre uma passagem da vida dela, que mudou o contexto do que eu sabia até então

Evento: Janis havia voltado pra sua cidade Natal, Port Arthur, para tentar se livrar das drogas. Um ano depois ela voltou para São Francisco

Wikipedia

Depois de retornar a Port Arthur para se recuperar, ela voltou para San Francisco em 1966, onde suas influências do blues a aproximaram do grupo Big Brother & The Holding Company, que estava ganhando algum destaque entre a nascente comunidade hippie em Haight-Ashbury

Janis, descrevendo a situação
A maneira que eu entrei no grupo foi engraçada, porque eu não transava há um ano, cara, com quem eu iria transar em Port Arthur? (...) Estava me esforçando na faculdade, como minha mãe queria e chegou um rapaz, velho amigo meu... um gato que eu costumava transar(...) Estava na casa de outras pessoas, e estava sentada lá quando esse gato veio e tomou conta de mim, ele simplesmente se apossou de mim, me atirou numa cama, uau, baby! Ele trepou comigo a noite inteira até esgotar minha energia. No outro dia me entreguei
- Oi
- E aí? Vá pegar suas roupas, acho que vamos para a Califórnia.
Percebi que tinha entrado nesse negócio de rock por um cara que trepava tão bem. Depois que cheguei e comecei a cantar, gostei de verdade. (...)
Soube depois que o empresário da banda mandou aquele gato ir em Port Arthur para me convencer a entrar na banda, ele sabia como eu cantava


Indispensável registrar o fator humano e lembrar que o povo no passado tinha suas razões humanas para tomar as decisões

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Chaves

Lanchonete Subway, 23h50min de uma Sexta-feira. Procurava o sanduíche do dia no cartaz.

- Ah, presunto não. O cara sair de casa pra vir aqui na subway comer sanduíche de presunto? É o sanduíche do Chaves! E ainda tem gente que compra, e ... ( outras e outras pragas..)

Então um homem na minha frente, se vira e olha fuzilando. Baixo o tom das críticas, mas mantenho o "eu não comeria"

Chega a vez do homem e ele pede "um de presunto, do grande e o atendente ouve as instruções, monta o sanduíche, faz tudo direitinho.

Chega a hora de pagar e eu ouço o diálogo
- Senhor, custa X.
- Acho que há um engano, este sanduíche é o da promoção, custa Y
- Não senhor. Passamos de meia-noite, o sanduíche agora é o de peito de peru.

Tenho certeza que este homem qd encostou a cabeça no travesseiro ouviu um eco
"Sanduíche do Chaves ... Sanduíche do Chaves ... Sanduíche do Chaves"

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Das fotos que não tirei

Era um show de rock. Mais do que isso, era um show de punk Rock.
Seguia toda aquela desordem típica deste tipo de show, se formou uma roda de pogo pra o pessoal dançar e tudo mais. Mas havia uma figurinha excêntrica lá no meio. Um dos fãs da banda estava lá de terno e gravata, no meio da confusão. Ele lembrava um pastor, flanelinha de cinema ou qualquer coisa assim. A roupa formal dele se destacava no meio dos seus iguais.
Só de imaginar a cena, provavelmente já deve passar pela mente de cada um uma boa foto. Na minha, pude ver um lance que ficou especial.
Eu subi num banco de rua que me deixou num plano mais alto do que o povo, meio numa diagonal. De lá, ficava um nível acima da massa. Em determinada música. O moço de terno e gravata subiu nas costas do outro, ficou de costas pro palco (mas alinhado com o vocalista) e movimentava os braços entusiasmado como quem estivesse regendo (ou pregando) aquela massa.
A cena seria essa então, um nível um pouco acima do palco, na diagonal, o povo pulando em êxtase, o vocalista berrando qualquer coisa e logo abaixo, na altura do joelho do vocalista, o moço empolgado.

Ai ai, que falta faz uma câmera nestas horas. Sempre escrevo nessa tag com uma dor no coração :D

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Versos de quarta - Cíntia Moraes

Nem vá buscar no google quem é. É uma amiga minha que também tem um blog, o asneiras aleatórias .
Bonitinho e rapidinho. Quem tem insônia, como eu, se identifica rapidinho

deito
levanto

deito
levanto

deito levanto

e

pra amanhecer

falta tanto

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz 2011

O ano começa em paz. Cheio de fraternidade e sorrisos sinceros



Feliz ano bobo pra vocês

Tirado daqui

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz ano bobo

Mais uma vez, começar o ano com Alice Ruiz. Adoro este poeminha, que passa pela minha cabeça todo primeiro de janeiro

Dia que termina
Nenhuma pressa
Ano que começa

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Postagem azul



Na minha vasta ignorância literária, ainda estou criando minhas referências. Uma delas, já solidificada, é com um poeta local Carlos Pena Filho. Por sinal, nem é a primeira vez que eu falo dele por aqui, está no circuito dos poetas e em um episódio dos versos de quarta.
Era de palavras delicadas, gostosas, com sacadas muito bacanas, como o poema que ele fez para Olinda, representado mais lá embaixo.
Este ano é o cinquentenário da morte prematura deste poeta e para lembrar sua passagem o Centro Cultural Santander fez uma exposição sobre ele.

Pude conferir e está muito boa. Não lembro de uma mostra bem cuidada assim para um poeta local sem muita força nacional. A exposição é dividida em 3 partes. No térreo há uma overdose de poemas dele e dois setores caracterizados. Um representando o bar Savoy (bar mítico que reunia os intelectuais no século passado), passando para um ambiente completamente azul (reflexo do desmantelo azul, um dos sonetos mais famosos dele), inclusive tendo um audio do próprio Pena Filho recitando o poema. No primeiro andar, um curta sobre o autor e no segundo algumas fotografias, vídeos e outras exposições artísticas que se vinculavam a poemas dele. No estilo do meu álbum do meu quintanando .
Sendo bem feito, de um poeta que eu realmente gosto, foram momentos valiosos que eu passei por lá. Ainda devo voltar para rever tudo de novo, mais azulado :D

Alguns poemas embaixo sobre coisas que citei aí em cima

(1) Trecho: Chopp (Copiei daqui)
Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

(2) Trecho: Olinda (tirei daqui)
Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.

(3) Desmantelo azul (tirei daqui)
Então pintei de azul os meus sapatos
Por não poder de azul pintar as ruas
Depois vesti meus gestos insensatos
E colori as minhas mãos e as tuas

Para extinguir de nós o azul ausente
E aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
Azul sobre os vestidos e as gravatas

E afogados em nós nem nos lembramos
Que no excesso que havia em nosso espaço
Pudesse haver de azul também cansaço

E perdidos no azul nos contemplamos
E vimos que entre nascia um sul
Vertiginosamente azul: azul.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Diálogo real

Há pessoas que chegam ao seu lado e te tratam como se fosse um amigo íntimo. Não sei até que ponto era verdade isso abaixo (ou se tinha o mínimo de verdade), mas foi assim que aconteceu: o diálogo esquizofrênico abaixo foram intercalados por momentos silenciosos.

Diálogo um: Abrindo o coração para um pobre sem crédito

Via uma exposição de fotografia enquanto uma senhora chegou:
- Você está gostando da exposição?
- Sim, eu gosto muito de fotografia. Estão muito boas estas.
- São realmente bonitas
- Se eu soubesse eu avisaria a uma amiga minha que gosta desta área, pena que não deu.
- Ah, chame ela então. A exposição só vai até hoje.
- Não dá tempo. Ela tem outras coisas hoje.
- Se quiser eu empresto o celular
- Mas não é questão de telefonar, senhora...

[Me olhei de parte a parte pra saber quão maltrapilho eu estava]

Diálogo 2: Perseguição
- Você não sabe como é difícil ser namorada de um deputado
- Oi?
- É. Difícil ser namorada de um deputado.
- Mas por que, exatamente?
- É muito difícil. Tem que ficar atento ao pessoal que quer atrapalhar a vida. São piores do que os paparazzi. Deixei de ir pra um show por conta disso.
- É né. Complicada esta vida pública
- Eles me perseguem. Olhe que eu nem tenho mais nada com o deputado, mas tão sempre querendo pescar alguma coisa
- Tem que ficar sempre atento né?

[Receei posar de amante dela na capa da contigo]

Diálogo 3: Conselho ao pobre
- Ele é apaixonado por mim, mas eu não quero nada com ele
- Oi?
- O deputado. Não vale a pena não. Vou te dar um conselho rapaz.
- Sim, pode dizer
- Nunca se case com uma vereadora. É só pra dar dor de cabeça
[Ela deputado, eu vereadora. Mas eu concordo, nunca namorei uma vereadora legal]

[Diálogo 4: Revelações e autoenganações]
- O deputado me pediu em casamento, mas eu não quis.
- Ué, não achava um boa?
- Ah, ele é bonito, rico, me ama. Mas quero não. Ele que volte pra aquelas duas amantes dele
- Oi?
- É, fulana e sicrana o nome das duas. Ele se quiser, que fique com elas. Felizmente eu nunca precisei de ninguém pra me sustentar.
- Então é melhor mesmo né, vai ser só dor de cabeça
- Mas eu sei que ele me ama.

[Ama, ama sim. Tenho certeza]

[Final: análise artísticas apuradas]
- Tem uma obra belíssima na outra sala, fica no lado direito entre dois quadros
- Eu chego lá já. Mas não é uma exposição de quadros esta próxima?
- É. Mas tem outra peça lá
- Tá bem, eu chego lá já.
- Eu vou aqui dar uma olhada.
Instantes depois eu vou em direção a esta sala, encontro a senhora na porta, como quem estivesse saindo.
- Eh.. eu acho que me confundi
- Foi? O que houve
- É que não era bem um quadro.

Entro na sala, olho pra direita, conforme a indicação da mulher. Na minha primeira impressão, havia algo no branco espaço entre dois quadros, com a plaquinha explicativa embaixo da obra. Não era um quadro e muito menos uma obra de arte. Era uma tremenda infiltração na parede, que vinha desde o teto e pipocara bem no lugar onde esteve um quadro, que obviamente fora retirado. Só que deixaram a plaquinha lá onde estava.

Pena que minha bateria da câmera nao cooperou. A infiltração eu iria fotografar.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Impressões legais

Conversa preliminar com uma desconhecida até então na exposição, conversando sobre viagens:
Começo:
- O gasômetro fica lá perto do centro de cultura Mário Quintana, em Porto alegre
- É bacana lá?
- Ah, eu gostei daquelas bandas.
- Você tem cara de que gosta de poesia.

Eba
:D

domingo, 5 de dezembro de 2010

Humanscapes

Sempre achei que o sentido que davam aquele clichê "definir-se é limitar-se" pobre e preguiçoso. Creio que ninguém consegue ser definido em poucas palavras, mas é possível traçar alguns princípios mais "profundos" que nos norteiam. Princípios que podem ser ampliados, reduzidos ou modificados no curso da vida. Além disso, o ilimitado não existe. Como diria Wittgenstein, os meus limites são os da minha linguagem. Reconhecer a própria limitação é um ponto importante para buscar, caso queira, coisa além dos seus próprios limites.

A questão então se torna no posicionamento dos limites, na sua amplitude. Apelando para eufemismos, vou classificar dois exemplos abaixo: os definidos e os "pouco definidos"

Vamos considerar uma perspectiva externa de alguém "definido". Uma pessoa comum, de reações frequentemente previsíveis, com qualidades e defeitos marcantes que se faz questão de manter por questão de "coerência". Uma pessoa "bonita e do bem". Uma representação nas artes plásticas poderia ser uma pintura de traços clássicos.


A beleza deste quadro é evidente e de esforço baixo para a compreensão. Você consegue ver ver com precisão os contornos do corpo. Traços bem definidos. Há alguns pequenos defeitos escondidos aí, defeitos que dependem do olhar de quem vê e da qualidade do pintor.

E os menos definidos? Alguém que você enxergue como um esboço, já que as ações não seguem necessariamente um padrão (ou ao menos parcialmente). Poderia ser algo assim


Isso é a Marilyn? Não sei, mas parece. Pode ser aquela cena clássica dela tentando segurar a saia sobre a saída de vento. A expressão facial é quase invisível. Uns traços pretos são o esboço das mãos e o que parece ser as pernas é uma composição preta e amarela. Não se sabe direito o que é cabeça, pescoço, vestido, braço e paisagem, são só impressões e comparações com uma referências que temos em mente.

Temos algumas referências para enxergar este último quadro, mas não certezas. O que fica dele não é são os contornos óbvios evidentes a nossa face, mas as impressões que ele passa dentro desta perspectiva. Esta é uma qualidade (?!) das pessoas pouco-definidas. Estes borrões de incerteza dão uma margem muito bacana para poder navegar, encontrar surpresas e outras perspectivas. Os idiotas da objetividade vão ver apenas um borrão, afinal, é melhor depreciar o que exige mais esforço.

Juro que eu prefiro esse "borrão" do quadro de baixo.

* Este quadro embaixo que motivou esta discussão está em exposição no centro cultural dos correios. Mas se não quiser ir lá ver, pode ver este e outros quadros aqui no site do pintor

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Versos de Quarta - Frei caneca

Estive na expoideias no domingo. Não sou muito chegado neste tipo de feira, mas resolvi dar uma espiada. Das poucas bancas que me prenderam, uma era a da Cepe, uma editora pernambucana. Havia uma coletânea de escritores pernambucanos. e vejo um poema muito legal
Segue um trecho:

Não posso contar meus males,
Nem a mim mesmo em segredo;
É tão cruel o meu fado,
Que até de mim tenho medo.

Dos homens sendo a paixão
Incêndio voraz no peito,
Sempre tem funesto efeito,
Se não rebenta o vulcão.
Eis porque, meu coração,
Pouco falta, que me estales;
Porque nos montes, nos vales,
Em deserto, ou povoado,
Não posso soltar um brado,
Não posso contar meus males.

(...)

O peito d’antes sereno
Centro de amor e ternura,
Agora é morada escura
De males mil, com que peno.
Vós p’ra quem um fado ameno
Aponta com áureo dedo,
Fugi de mim porque cedo
Mudar-se vereis a sorte;
Pois o meu mal é tão forte,
Que até de mim tenho medo.

Inteira e com a grafia antiga aqui

Aí, observo de quem era e me surpreeendo, era do Frei Caneca. Ele foi um do líderes da Confederação do Equador, movimento separatista pernambucano em 1824. Eu sabia que ele era intelectual, professor, e um dos redatores do jornal revolucionário . Mas na minha vasta ignorância, não sabia que ele tinha registrado boas poesias. Libertário, forte, a poesia parece refletir um pouco o espírito do revolucionário.

Um Frei que escreve sobre uma paixão forte (dizem que os primeiros 4 versos foi para uma mulher, de amor impossível) e que reconhece o próprio mal nos últimos versos?
Me tornei mais fã dele ainda!

sábado, 27 de novembro de 2010

Felicidade solitária - Bandeira' Rock

Não vou dizer que estar sozinho é a melhor das coisas. Mas concordo com o Quintana. É importante que nós preservemos a nossa solidão também. Sozinho você está mais aberto às impressões da rua, às pessoas, ao seu próprio universo. Já comentei sobre viajar sozinho uma vez aqui, daí nem pretendo me alongar tanto.
Mas por estes dias do novembro que passou, tive um domingo incrível a tarde. Um domingo solitário. Pude assistir exposições de fotografias, de gravuras, uma relacionadas a um poeta, um curtametragem, além de uma feira de novas ideias.
Sei que as impressões foram tão "fortes" comigo que, quando dei por conta, eu andava pela rua segurando os papéis que saí recolhendo sobre as exposições contra o peito, cabeça inclinada, olhar baixo, como que me "defendendo" de tanta coisa. Foi como uma resposta do corpo.
É uma sensação diferente, mas bacana. O fato é que as postagens que vem a seguir são relacionadas a este dia.

****
Passando pela rua em um fim de tarde eu vi um palco grande e uma tenda onde algumas pessoas estavam sentadas em cadeiras de plástico na outra ponta. Vou em direção a tenda e tenho uma surpresa. Um recital de poesias do Manuel Bandeira.
A ideia geral da coisa poderia ser bastante legal, se o infeliz que programou o recital tivesse percebido que o horário do danado bateria com a passagem de som. Poderia divagar aqui e aproveitar o clichê e dizer bonitinho que alguns trechos encaixaram perfeitamente aos versos. Entretanto, não foi o que aconteceu e acabou prejudicando mortalmente o recital.
Na saída, uma dúvida acabou perdurando: será que se fosse algo intencional, combinaria?


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fotossensível

Três registros da minha última viagem. Tentando fazer arte com minha câmera


Sol se escondendo entre as montanhas
Beira do abismo. Esta foto me dá um frio na barriga até agora
Balançando para o infinito

sábado, 20 de novembro de 2010

Tradução por figuras


ESte instrumento acima é uma escaleta, meu mais novo brinquedo. Ando enchendo o saco dos meus vizinhos e perdendo o fôlego soprando este bagulho

Já na imagem abaixo, eu peço a ajuda de vocês para compreender o significa isso que está no manual dela.
O bico preto é o bocal do instrumento.



Será quem canta os males espanta em japonês? :D

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Alma feliz

Minha mãe foi ao cemitério na véspera do dia de finados para evitar o fluxo excessivo do dia.
Ao passar um trecho do cemitério, reconheceu o túmulo do ex-síndico do prédio, sr Fulano de Tal.
Bom coração, ela parou pra fazer umas orações a alma do Sr Fulano. Separou uma vela para acender para ele

Ela segue adiante e 5 minutos depois olha um outro túmulo
"Fulano Sicrano de tal"
O túmulo real do ex-síndico lá do prédio. Ela se esquecera do segundo nome, as datas eram mais coerentes.

Minha mãe rezou pela alma errada

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Comemorações

Os militantes vermelhinhos se reuniram pra comemorar a vitória. Comemoram com o mesmo entusiasmo inicial nas duzentas vezes que se anunciou "Dilma ganhoooooooooou". É como um torcedor de futebol comemorasse o replay de um gol. A catarse fazia com que qualquer estímulo seja razão de gritar, de chorar, de soltar todos os palavrões que conhece, de amar, de morder e etc.

Estive num fim de noite que agregou militantes vermelhinhos. Especificamente onde eu fui, havia casais. Todos bastantes amorosos, mas eu queria destacar um, maior exemplo do raciocínio: Energia + álcool + provocações -> Energia sexual latente.

Se olhavam sem nenhum sinal de amor evidente. Se houvesse, estava encoberto pelo clima de tesão recíproco. Os beijos linguarudos, os amassos, diantes de todos do lugar, sem evidências de constrangimento.
De repente, a mão da moça escorrega até o short do moço, numa indução provocadora. Sai rapidamente, mas o suficiente para tirar o moço do sério. Ele então põe a mão na altura do joelho dela e desliza rapidamente em direção ao short.

Nesse momento eu queria invocar Nelson Rodrigues (de novo?) que disse algo do tipo "na minha juventude, eu não sabia dar nem bom dia a uma mulher". O cara saiu de uma provocada ousada, mas até certo ponto sutil (só alguns conseguiriam enxergar a bolinada) para uma mais evidente e agressiva. Ele foi pra meter a mão na genitália da menina mesmo. Ela fechou as pernas, pôs a mão pra "proteger" e se contraiu toda. Porém, a risada do seu rosto denotava que ela não estava achando isso a maior das ofensas.
O moço, tomado pela irracionalidade típica de um provocado e com a mão nada boba, insistiu. A menina resistiu, mas deslizou até a borda da cadeira.
Ele insistiu, ela resistiu
Ele insistiu, ela resistiu
Ele insistiu, ela caiu da cadeira, esparramada no chão
Mas não caiu como numa escorregada sutil. Caiu com uma jaca mole desaba sob um chão duro. Um ploft que ressoou por todo o lugar. A cadeira de madeira que ela sentara caiu junto, não menos escandalosa. O moço quase chegou a ir junto, mas se equilibrou com as pernas e evitou o tombo.
Vendo o ridículo da situação que ele provocara e querendo acalmar o lugar, ele soltou:
- Eu acho que esta cadeira é quebrada.
Enquanto a moça, olhando pra plateia que acompanhava o show, assumiu:
- Não, não foi a cadeira
E completou, com um olhar e sorriso faceiros e uma sinceridade etílica:
- O problema foi ooooutro.
Os carinhos esfriaram, mas nem tanto. Cerca de 10 minutos depois eles saíram juntos no carro.

sábado, 6 de novembro de 2010

A foto


No post 200 eu comentei que iria falar desta foto. Queria comentar da história dela
Dias destes eu estava no banheiro fazendo a barba, minha irmã acabara de tirar um café pra mim quando eu vi a tal exclamação no azulejo. Parei tudo pra tentar captar alguma imagem boa usando esta referência. O agravante era o pouco tempo pra pensar e as nuvens que passavam de instante em instante.
Sorte que deu tempo de pensar no boneco e pegar esta foto!
Mais do que a foto em si, achei bacana a circunstância. Dentro da casa que eu sempre vivi, consegui ver algo novo. Sorte também neste dia eu estar receptivo a estímulos como esse. Estas coisas são essencialmente do espírito, uma reação da minha parte mais poética ao cutucão que a natureza proporcionou.
Traduzindo em tempos da minha área:
Estímulo + natureza + espírito --> Processamento --> foto
Eu reconheço uns defeitos na foto, mas pelo contexto, foi uma das que eu não vou me esquecer

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

200



* Vou comentar sobre esta foto na próxima postagem

Depois da última postagem, eu tive a ideia de contar pra saber quantas faltavam para a de número 200 e tomei um susto
Já era a 199ª postagem, a seguinte já seria a 200.

Estes números redondos são bons como marcos, como referências para sentimentos. Eu juro como não achava que o blog chegasse na postagem 50. Hei de concordar com o Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.

O blog nasceu pelo desejo de registrar minhas pequenas sacadas e treinar meu poder de síntese, mas tentei de tudo um pouco. Os textos acabaram crescendo naturalmente. Mas deu uma ponta de saudade de uns formatos antigos que eu escrevia. Vou citar abaixo algumas postagens de referência. Minha lista ficou maior, mas tinha que reduzir isso :D

Haikai e outras tiradas : Este foi o primeiro haikai meu que eu postei aqui. Vez por outra eu posto algo meu como quem não quer nada. Poucas foram minhas tentativas em outros tipos de poesia, como o arte até ter ar, uma brincadeira de msn que virou um verso concretista.

Sartre e Dostoiévski: Referências ao que leio são muitas. Acho isso bacana, serve como um output do que a leitura produziu em mim. Ao reler, me lembra um pouco do sentimento do livro

Histórias do cotidiano e personagens do dia-a-dia: Preciso contar minhas histórias histórias. Adoro contar as coisas que vejo e que percebo de uma maneira atrativa e tentar evidenciar facetas interessantes de pessoas comuns.
Reflexões e divagações arrumam seu espaço na hora da inspiração. Concatenar estas coisas nem sempre é fácil, mas o blog tá aí pra tentar.

Versos de quarta, haikais dos sábados São algumas colunas que perderam um pouco a periodicidade, mas que refletem poetas que eu esteja lendo no período. É quase que um retrato.

Nos agradecimentos, não posso deixar de citar Leminski, Quintana, Rodrigues, Bukowski, Pena Filho e os demais que incitam meu espírito.
Por último. Queria agradecer aos meus poucos, porém ótimos leitores. A maioria eu conheço e me sinto orgulhoso de ser lido por figuras tão ilustres.

Valeu!