quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Versos de quarta* - Carlos Pena Filho

* Se tudo caminhar bem, até o fim de janeiro, vão aparecer uns versos, hai-kais e coisas do gênero por aqui todas as quartas


Um dos meus hobbies é o tal do pôquer. Vira e mexe eu jogo uma partidinha online e num dia iluminado eu consegui ganhar uns trocadinhos reais. Com o trocado que ganhei, minha primeira idéia foi comprar alguma coisa, além de pagar uma pizza pros amigos. O "alguma coisa" serviria como um troféu, algo físico, concreto. Decidi queseria um livro do Leminski. Apesar de citá-lo constantemente, não tenho nada do cidadão
Pois bem, fui à livraria e não tinha nada dele. Quintana? Tinha, mas não o que queria. Iria então apelar para uma novidade, que acabou sendo Carlos Pena Filho. Para quem não o conhece, ele foi um dos poetas pernambucanos mais importantes depois da geração de 45 (pulemos o Hour Concour João Cabral).
Quando eu rodei o Recife fotografando o circuito dos poetas (se alguém não viu, espia aqui) fiz uma breve pesquisa sobre o que escreveu cada um e neste momento Carlos Pena Filho já me saltava aos olhos. Observe que a estátua dele é tipo numa mesa de bar e sempre senta alguém pra conversar com ele.
Bem, eu juro que cheguei até aqui pensando em escrever um outro verso , mas como eu vi que um dos meus preferidos dele, o que está na foto, não foi registrado aqui ainda, vai ser o verso que inaugurará esta sessão.

Só fazendo uma breve contextualização para entender as entrelinhas:
O bar Savoy foi um bar histórico no centro da cidade do Recife. Era o nosso antro de intelectuais e poetas, de cuja efeversência se criaram muitos versos e prosas. Figurinhas como Sartre, Simone de Beauvoir, Camus, Ariano Suassuna, (e uma lista maior que eu me esqueci) já frequentaram o lugar. É um lugar que tinha história pra contar.
Pena Filho então escreveu o famoso refrão do bar Savoy.

Chopp

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.
Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.
Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Carlos pena Filho morreu com apenas 31 anos em um acidente de carro. Após a sua morte, Mauro Mota, outro poeta pernambucano, escreveu

São agora vinte e nove
Os homens do Bar Savoy.
Vinte e nove que se contam.
Falta um. Para onde foi?

Vinte e nove homens tristes.
Dentro deles, como dói
a ausência do poeta Carlos
na mesa do Bar Savoy.

3 comentários:

Rite disse...

Eu pintei Pena Filho de Azul.

Anônimo disse...

gosto desse cara.

venha ferver a água.
o.O

Anônimo disse...

Aos demais conterrâneos brasileiros:

- É verdade, falta apenas voces tornarem-se recifenses para entender o sentido da vida, eh, eh.