quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O exército de um homem só

- Estuda, filho, estuda. Lembra-te que Rabi Iochanan ben Zacai dizia "Foste criado para estudar a Torá"
Tonto de Sono, Mayer respondia:
- Mas Simeon, Filho de Rabi Gamaliel, dizia: "Passei a vida entre sábios e nada achei de melhor do que o silêncio. O essencial não é estudar, é fazer"
- Simeon? era inexperiente. Rabi Gamaliel, seu pai, sabia o que estava dizendo quando disse "Procure um mestre". Eu sou o teu mestre, meu filho.
- Na Guemara - contestava o perverso Mayer - está escrito "se o discípulo percebe que o mestre está errado, deve corrigi-lo"
A testa do pai vincava-se:
- Em que estou errado, meu filho?
- Em me obrigar a estudar estas bobagens quando estou louco de sono.
- Na Guemara está escrito "Se um grande homem disser uma coisa que te pareça um absurdo não rias, tente entendê-lo (...). Está escrito na Torá, a maior riqueza é o estudo, a religião.
- Não - gritava Marx - A maior riqueza é a posse dos meios de produção, estás ouvindo? É bem como diz Marx: a religião é o ópio do povo.
- Quem é este Marx? - perguntava o pai espantado - e o que ele sabe da felicidade dos homens?
- Sabe tudo! Sabe que não deve haver fome, nem injustiça. Não deve haver "meu" nem "teu"; deve ser "o que é meu é teu; o que é teu é meu".
O pai abanava tristemente a cabeça.
- Na Mishná está escrito que há 4 tipos de homens: O vulgar diz: "O que é meu é meu; o que é teu é teu"; O perverso diz "O que é meu é meu; o que é teu é meu"; O homem santo diz "O que é meu é teu, o que é teu é teu"; Mas tu, meu filho, dizes "o que é meu é teu, oque é teu é meu". E isto, segundo a Mishná, são as palavras do excêntrico, do estranho entre os homens. Acho que vais sofrer muito, meu filho .


O pai estava certo. Esta discussão do filho insolente, Mayer Guinzburg, ou Capitão Birobidjan, com o seu pai, que mistura política, religião e chega em desfecho curioso está no livro Exército de um homem só, do Moacir Sclilar. O livro que tem um quê de dom quixote, outro de revolução dos bichos e mais umas pitadas do manifesto do partido comunista pela perspectiva de um judeu.
É um nó tremendo, mas vale a pena. E como diria o Capitão Birobidjan, durante as várias vezes que tentou concretizar o seu sonho

- Iniciaremos neste momento a construção de uma nova sociedade

Nenhum comentário: