Há pessoas que chegam ao seu lado e te tratam como se fosse um amigo íntimo. Não sei até que ponto era verdade isso abaixo (ou se tinha o mínimo de verdade), mas foi assim que aconteceu: o diálogo esquizofrênico abaixo foram intercalados por momentos silenciosos.
Diálogo um: Abrindo o coração para um pobre sem crédito
Via uma exposição de fotografia enquanto uma senhora chegou:
- Você está gostando da exposição?
- Sim, eu gosto muito de fotografia. Estão muito boas estas.
- São realmente bonitas
- Se eu soubesse eu avisaria a uma amiga minha que gosta desta área, pena que não deu.
- Ah, chame ela então. A exposição só vai até hoje.
- Não dá tempo. Ela tem outras coisas hoje.
- Se quiser eu empresto o celular
- Mas não é questão de telefonar, senhora...
[Me olhei de parte a parte pra saber quão maltrapilho eu estava]
Diálogo 2: Perseguição
- Você não sabe como é difícil ser namorada de um deputado
- Oi?
- É. Difícil ser namorada de um deputado.
- Mas por que, exatamente?
- É muito difícil. Tem que ficar atento ao pessoal que quer atrapalhar a vida. São piores do que os paparazzi. Deixei de ir pra um show por conta disso.
- É né. Complicada esta vida pública
- Eles me perseguem. Olhe que eu nem tenho mais nada com o deputado, mas tão sempre querendo pescar alguma coisa
- Tem que ficar sempre atento né?
[Receei posar de amante dela na capa da contigo]
Diálogo 3: Conselho ao pobre
- Ele é apaixonado por mim, mas eu não quero nada com ele
- Oi?
- O deputado. Não vale a pena não. Vou te dar um conselho rapaz.
- Sim, pode dizer
- Nunca se case com uma vereadora. É só pra dar dor de cabeça
[Ela deputado, eu vereadora. Mas eu concordo, nunca namorei uma vereadora legal]
[Diálogo 4: Revelações e autoenganações]
- O deputado me pediu em casamento, mas eu não quis.
- Ué, não achava um boa?
- Ah, ele é bonito, rico, me ama. Mas quero não. Ele que volte pra aquelas duas amantes dele
- Oi?
- É, fulana e sicrana o nome das duas. Ele se quiser, que fique com elas. Felizmente eu nunca precisei de ninguém pra me sustentar.
- Então é melhor mesmo né, vai ser só dor de cabeça
- Mas eu sei que ele me ama.
[Ama, ama sim. Tenho certeza]
[Final: análise artísticas apuradas]
- Tem uma obra belíssima na outra sala, fica no lado direito entre dois quadros
- Eu chego lá já. Mas não é uma exposição de quadros esta próxima?
- É. Mas tem outra peça lá
- Tá bem, eu chego lá já.
- Eu vou aqui dar uma olhada.
Instantes depois eu vou em direção a esta sala, encontro a senhora na porta, como quem estivesse saindo.
- Eh.. eu acho que me confundi
- Foi? O que houve
- É que não era bem um quadro.
Entro na sala, olho pra direita, conforme a indicação da mulher. Na minha primeira impressão, havia algo no branco espaço entre dois quadros, com a plaquinha explicativa embaixo da obra. Não era um quadro e muito menos uma obra de arte. Era uma tremenda infiltração na parede, que vinha desde o teto e pipocara bem no lugar onde esteve um quadro, que obviamente fora retirado. Só que deixaram a plaquinha lá onde estava.
Pena que minha bateria da câmera nao cooperou. A infiltração eu iria fotografar.