segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O grande inquisidor -a peça

* O cenário era tenebroso. Havia um mesa com vários banquinhos estilo antigo, cadeiras "modernas" por trás, 2 copos de vidro industrializados, vassoura de cabo vermelho além de uma escada gigante. Enfim, não fazia sentido algum por si só e piorava, quando se pensava que o texto era uma referência de pelo menos 400 anos. Na prática, não existia cenário e deixaram de qualquer jeito ao fundo.

* Dar um veredito a um ator por uma leitura chega a se cruel. De positivo, dava para observar em alguns momentos, algumas expressões, algumas entonações que encaixavam bem. Por outro lado, a voz dele, boa parte do tempo em modo de grito, não fluia com naturalidade pelos ouvidos. Além disso, narração de diálogo por vezes trazia os participantes discutindo no mesmo timbre, mesmo tom de voz e mesma postura. Várias vezes não dava para saber quem falava o que.

* Sobre a voz, às vezes era difícil captar a mensagem, ator falando de costas somado a "nheco-nheco" das estruturas de madeira do teatro do levanta-e-sai constante dificultavam a vida de quem tentava prestar atenção.

* Lembro de um ponto que considerei questionável no texto. O cidadão comenta "vou recitar uma poesia de minha autoria". Entrega papéis para a platéia e.. não recita.

*Além disso, houve um outro momento curioso. Falando da luta dos escravos, que queriam apenas comida para eles dividirem, o ator para a cena, e distribui uns pães compridos para parte da plateia (a parte de convidados apenas. Coincidência?). Os recebedores, pessoas da coluna do meio do teatro, não entenderam a metáfora e ao invés de tirar um pedaço e passar para o lado, como poucos fizeram, achou que era realmente a hora do lanche e comeu o pão inteiro. Aí eu tive a convicção de que a maioria do público tava realmente pensando, unido, no velório da bezerra morta.

* O cúmulo da cena acima foi uma senhora, que tirou um pedaço e comeu, ofereceu outro a amiga e o resto do pão guardou pra levar para casa. Deus do céu

* A iluminação não jogou no mesmo time. Era simples e efetiva em boa parte do tempo, mas por pelo menos duas vezes, o iluminador acendeu a luz principal do teatro sem nenhuma razão aparente. Além disso, em um momento que o ator falou "e a noite caiu sorrateiramente". O iluminador quis representar isso, e ao invés de baixar a luz devagar, como a fala sugere, baixou de uma vez, como um blackout.

* O texto é bom, mas, independente da forma que foi apresentado, tem dificuldades de prender o leitor. Somado as circunstâncias, a peça não teve vida fácil para se desenvolver.
Eu gostei de ter ido, mas não recomendo.

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