domingo, 10 de maio de 2009

Amigos

O texto é "verba testamentária", de uma excelente seleção de contos de Quinzinho Machadão que classifica por temas. O tema que do que eu estou lendo é um dos meus preferidos, desrazão.

Separei um trecho bacana de verba testamentária :

"Os amigos eram os rapazes mais antipáticos da cidade, vulgares e ínfimos. Nicolau escolhera-os de propósito. Viver segregado dos principais era para ele um grande sacrifício; mas, como teria de padecer muito mais vivendo com eles, tragava a situação. (...). A verdade é que, com esses companheiros, desapareciam todas as perturbações fisiológicas do Nicolau. Ele fitava-os sem lividez, sem olhos vesgos, sem cambalear, sem nada. Além disso, não só eles lhe poupavam a natural irritabilidade, como porfiavam em tornar-lhe a vida, senão deliciosa, tranqüila; e para isso, diziam-he as maiores finezas do mundo, em atitudes cativas, ou com uma certa familiaridade inferior. Nicolau amava em geral as naturezas subalternas, como os doentes amam a droga que lhes restitui a saúde; acariciava-as paternalmente, davalhes o louvor abundante e cordial, emprestava-lhes dinheiro, distribuía-lhes mimos, abria-lhes a alma..."

Isso beira minha relação com alguns dos meus principais [Amigos? por aí, mas não vamos por este rótulo por hora]. Em geral, eles não são considerados poços de simpatia. Instantes com eles ativam minha criatividade e abria a alma. Olhando de igual pra igual, sem olhos vesgos, e considerando suas excentricidadades.
Nicolau tem uma personalidade excêntrica e numa descrição nesta direção é dá pra enxergar algumas coisas que fogem do senso comum.


Ps:
Viram? Eu também sou eclético. Leio até Machado de Assis

Nenhum comentário: