domingo, 29 de março de 2009

Domingo de Ferreira Gullar

Vou deixar o início do Poema Sujo, um poema que Ferreira Gullar criou enquanto estava no exílio, em Buenos Aires. Foi trazida para o Brasil depois de ter sido 'ouvida e louvada' por 'um tal' de Vinícius de Morais em uma fita cassete. Fita que circulou entre os intelectuais que ficaram no país. Depois, ela foi transcrita e lançada no Brasil com o autor ainda fora do país.


turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti

bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era...
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
perdeu-se na profusão das coisas acontecidas




Ps: Incitado e estimulado pelo meu lado Iza de ser
Ah, e fora do meu livro de haikai, poema sujo foi o único livro de poesia que eu comprei pra mim

Nenhum comentário: